sábado, 15 de dezembro de 2012

Que turma é essa?!




A essa altura já percebi: vou sentir falta de muita coisa.

No começo da academia o clima era tão tenso que eu não achava que fosse dizer isso, mas tem um monte de coisa de que vai deixar saudade, assim que pisar no avião pra sair de Brasília.

Vou sentir falta das disputas entre linha um e linha dois do tiro. Das rodinhas de piadas dos cariocas, que faziam minha barriga doer de tanto rir. Das comparações absurdas que fazíamos, entre pessoas da sala e imagens de slides e vídeos das aulas. “Olha lá o anjinho”, diria o Mariath.

Vou sentir falta das piadas. Até das piadas forçadas. Sobre gaúchos, sobre os conhecimentos elétricos do Damasceno, sobre o Alves perguntando “quem vai cozinhar?”. A primeira vez das piadas era muito engraçada, mas as repetições infinitas pareciam ser uma busca ardente por criar um clima mais brando, entre tantas regras, rankings, proibições, incertezas que nos cercavam.

Vou sentir falta dos brados engraçadíssimos nos deslocamentos, do recuo da MP5, das papis bonitas, dos luaus malucos (que infelizmente elas nunca participavam), dos desenhos do Karam. De ouvir coisas tipo “professorrrr”, “aíeh galiera”, “aí gurizada”, “ei cagalhão”, “ô meo” e “booooa professor!”.

Não vou sentir falta de tudo, claro. Não vou sentir falta do arroz e feijão, que parecem ter sido cozidos uma vez em quantidade suficiente pros quatro meses e requentado diariamente pra gente. Nem do bife, que às vezes tinha a consistência da sola de um coturno. Mas vou sentir falta do salmão. O macarrão era quase sempre muito bom. A feijoada de sexta também.

Não vou sentir falta da impressão de morte iminente de cheirar o gás lacrimogêneo. Mas vou sentir falta da sensação que vem depois, de vitória, de me sentir capaz, de me sentir cada dia mais cascudo.

Não vou sentir falta da agonia de ver um colega da turma estar a um passo de ser desligado do curso. Mas, com certeza absoluta, uma das coisas que mais me farão falta é a alegria de ver esse mesmo colega vencer, e a satisfação de ver a turma unida em torno de um objetivo. Depois desse dia a turma Eco nunca mais foi a mesma.

No fim das contas, chego à conclusão de que, quase tudo que me fará falta na ANP, vem de vocês. A maior parte de tudo que vivi de bom, de tudo que me fez sorrir nos últimos quatro meses, foi meio da convivência com colegas e amigos que fiz aqui dentro.

Eu sei que se tornou repetitivo falar isso, mas sinto um imenso orgulho de ser considerado um de vocês. Me sinto como um irmão adotivo, que no começo causa uma certa estranheza, mas logo passa a ser como um irmão de sangue. Sou um de vocês.

***




Desde que me caiu a ficha, durante discurso do ministro da Justiça, da batalha que havia finalizado, fiquei engasgado, até o resto do dia. É aquele choro represado, que a gente fica esperando a melhor hora de deixar escorrer. Deu vontade durante os discursos; também ao fim da cerimônia, nos brados espontâneos da academia inteira; de novo lá na sala, nos abraços de despedida; mais uma vez ao esvaziar o alojamento, entrar no carro e ver a academia passar, olhando o asfalto e lembrando de quando corríamos em pelotão. Chorar mesmo, só quando cheguei em casa.

O resto do dia foi um turbilhão de memórias me rondando. Interessante que eu citava como me sentia e ninguém parecia captar sequer uma fração. “Ah é? Legal”, era o que se respondia, diante da tentativa falha de me expressar.

O sábado foi um daqueles dias que a gente sente saudade por antecipação. Tivemos pelo menos outros quinze sábados sem sentir um pingo de falta. No último, dói, porque a gente se acostuma com o convívio. Dói porque pessoas são insubstituíveis. Dói porque são 37 que, provavelmente, nunca mais estarão juntas ao mesmo tempo.

Mas é sempre assim. A academia é uma catapulta. Junta-se um grupo de todos os cantos do país para que fiquem quatro meses juntos e, depois, dispersa-se o grupo para mais longe ainda. Sorte de quem vai junto. 

Vai ser bom estar em Guaíra, Cuiabá, Porto Velho...

É isso. Equipe é equipe, está sempre junta, mesmo longe.

E quando perguntarem "que turma é essa?", soltem aquele grito:

ECO!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Top 10 humilhações do Paysandu






A princípio pensei que seria fácil escolher as maiores humilhações que o Papão sofreu, afinal foram muitas. Mas logo vi que seria complicado, justamente porque… são tantas! O que dizer de um time de cujo hino exalta a glória de uma vitória ocorrida em um amistoso há meio século (“até o Peñarol veio aqui pra padecer…”)? De qualquer forma, posso dizer a vocês que torcer pro Paysandu até que não é tão ruim assim – caso você tenha nascido em 2002 e morrido em 2005.

Como tem sido tendência no Impedimento, preteri as partidas neolíticas. É que dá um trabalho gigantesco pesquisar o sentimento que rolou na época e, no fim das contas, o efeito emocional hoje é quase nulo. Acabei escolhendo episódios a partir de 1990. Não que o Paysandu tivesse passeado em pastos verdejantes dali pra trás; é que nunca o time havia oscilado de maneira tão abrupta entre o céu e o inferno.

A primeira coisa que pensei ao iniciar esta tarefa foi no meu quase chará, Felipe Silva, autor do texto das humilhações do Avaí. Companheiro, também sabemos muito bem o que é passar cinco anos sem vencer o maior rival. A diferença é que, pra vocês, foram só 15 jogos, mas pra gente foram 33.

Separar só três Re-Pa foi missão difícil, já que é o clássico mais disputado no mundo, tem mais de 700 partidas e milhões de boas histórias. E tem outros jogos marcantes, como uma derrota pra Tuna de 4 a 0 em 1997, na época em que a Lusa ainda era uma força local, tipo América-MG e Portuguesa. O leitor paraense vai lembrar de outras histórias e discordar da minha lista, postar outras partidas nos comentários e me chamar de remista. Tudo bem.

O importante é que cada uma destas 10 humilhações soou como o Capitão Nascimento gritando carinhosamente nos nossos ouvidos: NUNCA SERÃO. Espero ao menos que minha dor de lembrar as tragédias que vou contar agora seja logo aplacada por algum azulino corajoso que escreverá as Top 10 do Remo. Tô até ansioso pelo relato do “Caso Castor”.

Agora chega de enrolação e aprendam como não fazer:



10 – São Paulo 7 x 0 Paysandu – Brasileirão série A, 28/09/2004

Levar goleada de time grande nem é assim tão absurdo. Só que ver a bola entrando com qualquer peteleco de Cicinho e Grafite não tem a menor graça. O pior foi que essa sapatada nos trouxe de volta à uma realidade da qual queríamos nos livrar.

Vou explicar. Em 2001, o Papão ganhou a Série B; no ano seguinte, conquistou a Copa dos Campeões (e um lugar no Top 10 Humilhações do Cruzeiro, claro); e mais um ano depois, teve participação destacada na Copa Libertadores. Quando 2004 começou, queríamos ser tratados como grandes e, no returno do Brasileirão, até que estávamos começando a ganhar respeito. Essa goleada do São Paulo encerrou uma sequência de bons resultados no campeonato e nos trouxe de volta à sina maligna: Série A, apenas pra fugir do rebaixamento.

9 – São Raimundo 1 x 0 Paysandu – Copa Norte de 2001

A vida não foi fácil antes de começar a Belle Epoque bicolor. Meses antes de ganhar a Segundona, o Paysandu sofreu um revés daqueles doloridíssimos. Se explicar assim, no seco, nem parece grande coisa. Perdeu um jogo fora de casa, apertado, pra um rival regional que vinha bem – havia ganhado as outras duas Copas Norte.

Há três fatores que fizeram dessa derrota uma tortura: o Paysandu já estava com um bom time, a derrota veio em um rebote do goleiro nos acréscimos do segundo tempo e, depois do apito final, rolou um chororô. A imagem que vem à cabeça de qualquer paraense, quando se fala nesse jogo, é a do capitão do Paysandu, Gino, às lagrimas como uma criança. Não foi nessa vez que o Papão disputou a Copa dos Campeões.

8 – Ceará 4 x 0 Paysandu – Copa do Brasil, 16/03/2005

Pra maioria dos torcedores bicolores essa partida pode não ter causado lá grandes cicatrizes. Talvez o meu ponto de vista tenha sido um agravante, sei lá. De qualquer forma, essa partida representa a praga de o time nunca conseguir passar da segunda fase da Copa do Brasil. Esse jejum acabou só agora, em 2012.

Na partida de ida, entrei de penetra no Mangueirão, já que eu era estagiário do jornal O Liberal. O que senti naquela noite iria se repetir um ano depois, no Brasil 3×0 Gana, pela Copa do Mundo. Lembram? O Brasil jogou mal, errava toques analfabéticos, perdeu uma penca de gols e foi muito criticado depois. A desculpa de Parreira e dos jogadores foi: “mimimi, a imprensa é chata, mimimi, goleamos e ainda reclamam”.

Pois é. O Paysandu jogou muito mal e, mesmo ganhando de 2×0, foi vaiado no final. Todo mundo via que, apesar da respeitável vantagem no placar, o perigo da partida de volta era grande. Todo mundo, menos o técnico Roberto Cavalo e os jogadores. Não adiantou termos Robgol na frente, nem sermos da Série A. Fomos humilhados no jogo de volta. Pelo menos não levamos gol do Camanducaia.

7 – Paysandu x Bragantino – Queda pra série C em 1999

Torcedores do Fluminense podem pensar terem sido os únicos beneficiados com a criação da Copa João Avelange, em 2000. Não foram.

Pouca gente fora do Pará lembra que caímos pra Terceira Divisão em 1999. E, como já lembraram por aqui, se a Segundona já era considerada um limbo fantasmagórico na década de 1990, a Terceirona era, de fato, o fundo do poço.

As circunstâncias desse rebaixamento tornam tudo mais escalafobético ainda. Remo e Paysandu estavam ameaçados de cair, o escrete bicolor estava bem mais confortável. Bastava um empate em casa com o Bragantino, já livre da degola. Já o Remo precisava vencer o CRB fora.

Lembro bem disso na época: eu tinha certeza que só nossos rivais cairiam, mas ocorreu o oposto, com um toque de surrealismo. O Paysandu desperdiçou pênalti e perdeu de 1 a 0; já o Remo arrancou uma vitória de dentro do útero e se safou. O pior veio no ano seguinte. A última vaga pra disputar o módulo principal foi disputada justamente por quem?

Foi um Re-Pa inesquecível. Especialmente porque perdemos. Imagina: em vez de disputar a série C, o Paysandu é convidado a ficar no segundo módulo e, mesmo assim, leva peia do maior rival.

6 – Paulista 9 x 0 Paysandu – Série B, 18 de novembro de 2006

Não é um grande time paulista. Não é a Série A. E não são só sete a zero.
 
Convenhamos, só há duas hipóteses pra explicar um placar assim: time perdedor ou é MUITO pior ou fez corpo mole. Considerando que, até o campeonato ser interrompido pra Copa do Mundo, o Papão estava em 4º – portanto, classificado pra voltar à Primeirona -, e considerando que os salários estavam cronicamente atrasados, resta a segunda opção.

Não precisa ver o VT da partida; basta olhar como foram saindo os gols pra perceber que os jogadores do Paysandu não tinham lá muito tesão pra voltar do ataque e marcar os adversários. Não interessa, isso não muda em nada a humilhação dos torcedores, muito menos a gozação dos remistas. A partir desse jogo, entramos na zona de rebaixamento e caímos pra série C, pra nunca mais voltar. Até agora.



5 – COMBO 2007/ 2009

Paysandu 0 x 1 Imperatriz
Icasa 6 x 2 Paysandu

Aqui já dá pra escrever um COMPÊNDIO só com as peripécias de um time muito atrapalhado que arruma altas confusões nessa divisão do barulho.

O mais emblemático foi o primeiro ano na Série C. Conseguimos ficar em 62º de 64 times. Pelo menos escapamos do rebaixamento (claro, ainda não existia Série D).

Embora a eliminação da competição tenha vindo com a derrota em casa para o poderoso Araguaína, perder o jogo contra o Imperatriz tornou tudo ainda mais patético. Era uma questão de honra. Enfim, foi um dia histórico: o pior momento da história do time.

Nos últimos três anos, o Papão foi passando de fase aos trancos e barrancos – tudo bem, nunca é fácil – até chegar nos duelos decisivos: quem ganhasse, subiria pra Série B. Depois do empate de 1 a 1 em Belém, tudo poderia acontecer, passar ou não. Mas levar meia dúzia de gols de um time que tem o nome escrito na privada lá de casa é sacanagem. Confira também se na sua não tá escrito Icasa.

4 – COMBO 2010/ 2011

Paysandu 2 x 3 Salgueiro
América 2×1 Paysandu

No ano seguinte, foi inacreditável. O Paysandu empatou fora e saiu ganhando na Curuzu. Mas levou três gols seguidos e entregou a vaga de novo, EM CASA, pra um time de pouca expressão do interior do Nordeste. E olha que o Salgueiro tinha só seis anos como time profissional.

Vem 2011, de novo a campanha “Vamos subir Papão”. De novo, o time vai passando de fase e, agora, um quadrangular decisivo. Agora vai. Ganhamos os três primeiros jogos e os matemáticos apontam: Papão com 99% de chances de subir. Tem como dar errado? Tem.

Uma dessas partidas foi anulada e repetida, com derrota do Paysandu. Os jogos rolaram com equilíbrio até, claro, o bicolor entregar a vaga pra mais um time nordestino. Podíamos empatar, mas veio a derrota pro América de Natal.

 3 – Paysandu 0×2 Remo. Final do Parazão de 2004

Foi o jogo final de uma campanha irrepreensível do Remo, um dos poucos times do Brasil a ganhar um campeonato só com vitórias.

Essa partida definia o segundo turno do campeonato. Parecia até que ia dar Paysandu, já que o Remo perdeu um pênalti e teve um zagueiro expulso. Mas, depois dos 40 minutos, os azulinos fazem dois gols e encerram uma campanha irrepreensível. Rolou até um certo déja vu de um tal de tabu que vou contar agora.

2 – Paysandu 0×4 Remo – Final do Parazão, em 31 de março de 1996

As próximas duas traulitadas sintetizam como foi passar de 1992 a 1997 sem uma vitoriazinha contra o Remo. Nessa época, parecia realmente impossível ganhar do maior rival. Surgiu até uma macumbeira dizendo que o Paysandu devia-lhe dinheiro, o que, confesso, soou totalmente verossímil na época.
Em algum momento da história de times rivais, um deles vai ganhar do outro de 4 a 0. É humilhante, mas acontece. Mas e se essa derrota é o 26º jogo de tabu? Em final de campeonato? Perdendo um pênalti no fim? A sexta partida seguida sem marcar gol contra o adversário? Não é normal.
O destaque do jogo foi Ageu Sabiá, o sucessor, sem grife, de Giovani (aquele do Santos, Barcelona, Seleção). Os dois começaram a carreira na Tuna. A diferença é que Ageu era baixinho e barrigudo.

1 – Paysandu 1×3 Remo Parazão, em 13 de abril de 1997

A partir de certo momento, antes dos clássicos os azulinos passaram a contar o número de jogos sem derrota pro Paysandu. Metade do estádio gritava “uuuum, doooois, trêêês, quaaaatro….”. Nessa partida, a contagem estava em 32. Se até aqui ainda sobrara algum torcedor do Paysandu acreditando no fim do tabu, depois do jogo não havia mais.

No começo, parecia que ia dar. O Remo chegou aos cacos para o clássico. Improvisou dois jogadores para substituir o técnico, recém demitido.



No jogo, o Papão saiu na frente, foi aquela festa. A esperança, moribunda, deu alguns suspiros, mas voltou a respirar por aparelhos depois que dois atacantes saíram do banco remista e fizeram três gols. Depois dessa partida, ainda houve outra derrota, até, enfim, o Paysandu voltar a vencer o Remo.

(Publicado originalmente no ótimo site esportivo Impedimento).

domingo, 12 de agosto de 2012

Um pseudo policial: por onde anda Filipe Faraon


Galera passeando de barco com brinquedinhos



Como a maioria já deve saber, saí quase foragido de Belém e minha vida deve ficar bem diferente até o fim de dezembro, aqui em Brasília.

Levei peia na última fase do concurso da Polícia Federal. A academia estava marcada pra começar no dia 6 de agosto e eu já me sentia fora. No dia 7, a Justiça me deu uma forra e deixou eu cursar. A confirmação chegou às 18h10 daquela terça-feira. O prazo limite de matrícula era a quarta-feira, 8, às 17 horas. Então tive que atabalhoadamente correr atrás de documentos, arrumar roupas pro enxoval, preparar mala, comprar passagem e embarcar em poucas horas.

Foi muito diferente de como sonhei. Queria muito ter sido aprovado no dia 17 e ter marcado a prometida comemoração com amigos e todos que me ajudaram de alguma forma. Mas a correria foi tão grande que nem tive tempo de falar "galera, tô viajando". A notícia pegou todo mundo de surpresa e meu aniversário já vou passar isolado por aqui.

Será?


Apesar de eu estar saltitante por aqui desmontando pistola como uma criança brinca de lego, a situação ainda não é confortável como um pé enfiado numa crocs. Aliás, a coisa ainda está meio meio feia, tal qual um pé encarcado numa crocs.

Não é muito provável, mas pode acontecer de minha liminar ser cassada e eu interromper a academia no meio. Mas digamos que eu vá até o fim e me forme. Isso não quer dizer que logo em seguida vou andar com uma bazuca nas costas, apontando a carteira funcional e gritando PULIÇA FEDERAO por aí. É que o juiz permitiu só que eu fizesse a academia.

Com vocês, uma Glock

Claro que vou pedir também pra ele deixar eu ser nomeado e tomar posse, mas convenhamos, enquanto não for julgado o mérito a possibilidade de o magistrado me deixar caçar bandidos trabalhar como policial é pequena. Ou seja, o prospecto mais factível é: Filipe termina a academia de polícia no dia 21 de dezembro, volta pra Belém e espera uns cinco anos para o processo transitar em julgado e, só aí, ser nomeado - ou não, em caso de decisão judicial desfavorável.

Então, irmãos, não iludis uns aos outros dizendo "Filipe passou no concurso". Não passei. É possível virar esse jogo, mas trata-se de um processo longo e doloroso. Não há nada garantido. O que não quer dizer que eu esteja mal. Galera, tô ótimo, muito feliz.

Aliás, me deem licença que preciso desmontar uma Glock aqui...


 Novo naipe: depois de cinco anos de barba no queixo...

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Amigo de pecadores





Agoniado por uma avalanche de problemas que, em vez de se resolverem, aumentavam cada vez mais, ele não percebeu que não parava pra orar. Pior; não entendeu por que não pedia solução, em oração. Até que chegou a uma conclusão e falou pra Deus:

- Não oro porque não mereço ser atendido.

Ao que prontamente Deus respondeu:

- E é por isso que vou te atender.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um escritor mequetrefe


Há sempre uma voz no ouvido de um grande escritor dizendo "escreva, escreva". Tipo como Forrest Gump captava sussurros de "corra, corra" - ainda que fosse rumo ao nada.

Não sei se por uma elevada perda auditiva minha ou por alguma espécie de rouquidão crônica dessa misteriosa voz, não tenho escutado nada do tipo. A razão mais provável, como quase sempre, é a mais óbvia: vai ver não sou um grande escritor.

Mas convenhamos, o buzinaço de "escreva, escreva" no ouvido não é garantia que eu iria tornar minha produção lá muito prolífica. Até porque, se ficar ouvindo uma voz insistente fosse suficiente pra me tirar da inércia, eu teria estudado mais durante o Ensino Médio. Né, mãe?

O importante é que, por um exercício extremo de teimosia, volto a remover a poeira desta caderneta virtual, com o cristalino objetivo de amolar você. Exatamente você, seu masoquista, que vez por outra dá uns cliques aqui pra catitar estas merdas de posts e depois sair por aí dizendo que o blog do Anderson é bem melhor.


Tudo bem, não me importo. Ele me serve de inspiração, sabia? Até colei na parede do meu quarto a impressão de um print do Bêbado Gonzo pra ficar atirando dardos. É que eu penso que se o Anderson, um jornalista pedreirense mequetrefe, consegue ter muitos leitores, eu também posso. Afinal, sou igualmente jornalista, pedreirense e bem mais mequetrefe que ele.


Pra atrair a atenção de leitores, claro, criei factoides, como esse ridículo paralelo com o Anderson e a completa repaginação do Oásis da Inutilidade. Para a reformulação, contratei uma equipe de designers franceses, que seguiu o moderno conceito do Greenwashing, conjugado com o GUI Grafical User Interface. O resultado, como você pode ver, alcança  rigorosamente o padrão internacional de MBS, que em sânscrito, significa a "Mesma Bosta de Sempre".

Os posts também passarão pelo crivo de um concílio formado por jornalistas, escritores e publicitários com renome internacional. O objetivo será garantir que a leitura que chegará a você alcança os elevados patamares da MBS. Essa é uma forma de o nosso blog combinar com a internet, que, assim como a TV, a minha e a sua vida, continua rigorosamente a Mesma Bosta de Sempre.


Mas meu maior objetivo, na verdade, é evitar que tais cenas se repitam:

 "Estivemos conversando e percebemos que tá na hora de você atualizar seu blog"

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Crônicas de Nada: A aula inaugural do Capitão Nascimento




Depois de largar as funções de chefe do Bope e secretário adjunto de segurança, já predominavam os fios de cabelo branco nas laterais da careca do Capitão Nascimento. É claro que ele se aposentou como coronel, só que as pessoas continuavam chamando o cara de capitão. Essa foi a única injustiça contra a qual ele cansou de se queixar.

Por isso, Nascimento se apresentou como Capitão mesmo à sua turma de cursinho da Polícia Federal, em Belém. Tinha acabado de se aposentar e, como bom Chuck Norris cover, ficava todo empolado só de pensar na possibilidade de ficar em casa criando uma casca no saco de tanto coçar, sem ter o que fazer. Por isso o emprego de professor.



Depois de deixar claro que não tiraria foto com ninguém, prometer que daria uma passadinha na Terra Firme e de dizer que não conhecia nenhum tal de Éder Mauro, Capitão Nascimento começou a aula com um discurso típico de auto-ajuda. Só que invertido.

- Daqui percebo uma coisa: os senhores são todos uns fracassados. É claro, se estivessem no emprego dos sonhos, não precisariam se humilhar sentando de novo o cu nessas carteiras vagabundas. É isso, todos  ganham bem menos que os R$ 7,5 mil do edital. E o pior é que aqui na sala só tem de meia idade pra cima.

A turma arregalou os olhos e engoliu seco. E o capitão continuou:

- Pra começar, temos que deixar logo claro que quase ninguém dessa sala aqui vai passar. Aliás, provavelmente ninguém. No concurso passado, só foram aprovados pro teste físico 13 pessoas de Belém. E mesmo que alguém passe, o que adianta? A tia lá atrás, por exemplo, - aponta pra uma dona de casa gordinha, no fundo da sala - aposto que não aguenta correr nem 500 metros.

A mulher fica com vergonha e olhos se enchem de lágrima.

- Se eu fosse vocês, nem perderia tempo com essa merda. Vão pra casa ver Big Brother. Por que não fazem um curso de culinária? E tu, viadinho - aponta pra um rapaz que vestia colete à Carlos Minc - é tu mesmo aí, com cara de boiola. É melhor ir se requebrar em uma boate gay, porque tu não aguenta nem uma semana no curso de formação.

Com essa, a tia arrumou as coisas com as mãos tremendo e saiu chorando da sala.

- Estão pensando que é assim, vão passar no concurso e aí é só vida boa mamando nas tetas do estado? Esqueçam! Os aprovados vão ficar em área de fronteira por pelo menos três anos, sabiam? Lá não tem ninguém gritando "manhê, acabei!" depois de cagar.

A essa altura, um terço dos alunos já tinha saído da sala. Satisfeito, o Capitão Nascimento decidiu começar efetivamente a aula.

- Peguem seus cadernos e anotem. Na aula de hoje os senhores vão aprender o conceito de estratégia. Em grego, strategia, em latim, estrategia, em francês, estrategie...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Crônicas de Nada: A Fuga



É um momento tenso. Um movimento em falso e já era.

O ideal é fazer o trajeto de noite; a escuridão favorece o fugitivo. Mas não é tudo. É necessária técnica - o que apurei com anos de treino. Só que não há habilidade que garanta o êxito. A gente sempre tem que contar com um pouco de sorte.

O princípio básico é você fingir ser qualquer um, apenas um na multidão. Pokerface mesmo, sabe? Esse é até meu ponto fraco. Só jogo poker pela internet. Não adianta nada.



Mas dou a largada. Começo com o primeiro passo na calçada. Há pessoas passando. Carros, ônibus, motos. Dobro à direita e sigo adiante. Aí entra o passo número dois: o jeito de caminhar. Nem penso em apertar o passo, andando para o chão. Eles farejam de longe os apressados. O segredo é a naturalidade. Como em uma dança, meu ritmo tem que ser igual ao de todos no salão - nesse caso, da rua.

A ansiedade atrapalha. Eles identificam tensão em um raio de 1,5 quilômetro. Se exalar de você, "crau".

Dobro à direita de novo, desvio de dois buracos do chão. Começo a me flagrar tenso e olho no relógio, pra disfarçar. Olho de boa, sem parecer apressado. Tento caminhar meio gingado, feliz. Já venci metade do caminho, mas ainda não há nada garantido.

Eles estão no outro lado da rua. Eu sei disso porque estão sempre lá. Não posso olhar, seria fatal. Eles me veem, mas não chamo atenção, faço parte da paisagem deles. Sou como um carro, uma velhinha segurando um bebê, um cachorro que passa. Apenas ando.

Quem chega a este ponto sem ser observado já tem grande chance de êxito. Isso se já não estiver sendo seguido, claro. Mas não posso olhar para trás. Se me seguem, perdi, não há o que fazer; se não, devo apenas ir adiante com o plano. Suo frio. Meu suvaco começa a ficar melado, mas ninguém percebe.

Passo por um trecho mais escuro, embaixo de umas árvores, fico mais tranquilo. Desvio de uma mesa e algumas cadeiras. As pessoas estão conversando naturalmente. Olham-me, mas não me veem. Melhor assim. Alguém atento perceberia que minha blusa já está suada no suvaco. Faltam só uns dez passos.

Cheguei, agora é agir rápido. Ligo o carro, engato a primeira e arranco logo. Só depois ligo o farol, coloco o cinto de segurança e baixo os vidros. O sangue desce do corpo, os músculos relaxam. Olho-me no espelho do carro, orgulhoso, e falo pra mim mesmo: parabéns, você acaba de economizar um real do flanelinha.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Por que os homens traem

?


Os homens são as maiores vítimas do próprio machismo. Tipo o comandante que alimenta a caldeira do navio com madeira do casco. Aí afunda e não sabe por quê.

Antes de desabrocharem os primeiros pentelhos, o cara já é estimulado a ser pegador. Aliás, enquanto se troca a fralda do bebê, a família adora fazer comentários sobre o pinto do moleque e dizer que logo logo ele vai estar comendo muita ****** quando crescer.

Quanto mais pegar, mais macho é. Tem que desejar a seminua do outdoor, a caixa peituda do supermercado, a transeunte de vestido transparente. Legal. Só que na hora de se comprometer, o cara continua - involuntariamente - inclinado a querer outras.

A lógica é simples e acontece em muitos outros aspectos da vida. Ex-fumante, por exemplo, acostumado a acender um cigarro depois de botar o pelé pra nadar cagar, sempre vai sentir muita vontade de fumar quando sentar na privada. Atos repetidos viram hábitos. Maus hábitos viram vícios. E qualquer grande prazer é um vício em potencial.

Claro que isso não justifica nem alivia traição. Mas mostra que a história é bem mais complicada do que pensam as mulheres - especialmente as traídas. Já tratei superficialmente do assunto, mas foi necessária uma pesquisa aprofundada. Não com base em mim ou na minha experiência, mas sim no que observo dos casais por aí. 

Segundo meus estudos empíricos, pelo menos 85% dos homens precisam de meia centena de sessões no psicólogo pra largar essa taradice. Ou sessões de tortura, aos que recusarem o tratamento. Só que quase todos buscam o caminho mais fácil, a pokerface - também conhecida como "cara de pau".

Mas aí entra um ingrediente interessante. Acredito que 30 a 40% das mulheres tenham mente masculina, para o bem e para o mal. Assim como homens, elas fazem uma clara separação entre amor e sexo e muitas têm lá suas dificuldades pra andar na linha.

Não importa, pelo menos funcionam como uma espécie de vingança feminina. Com o diferencial de fazerem tudo muito bem, tipo o crime perfeito, sabe? É que o homem, quando se acostuma a trair, começa a ficar destrambelhado. Inconscientemente acha que nunca vai ser pego. Mais ou menos como um motorista apressado vai ganhando confiança ao volante e fazendo cada vez manobras mais perigosas. Até dar com o nariz no poste.

Mulher não. Toda frieza que falta no relacionamento sobra no planejamento da pulada de cerca. Se não contar pra amigas, nunca ninguém saberá. O ato escapa até do radar dos videntes. Elas são o chicote dos traidores contumazes, esses que têm seu par, comem todo mundo e se acham o máximo por isso. Mal sabe  que, na melhor das hipóteses, está só empatando com a namorada.

Mulher é capaz de se atirar cegamente no relacionamento, mas não é tão burra quanto acham os adúlteros. Bem feito.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Crônicas de Nada: O inxirimento do meu melhor amigo




Vou logo abrir o jogo: morri. E não foi nada honroso. Cravaram-me um gargalo de Cerpa na jugular. Cerpa! E o pior: o assassino era meu melhor amigo. Estranho, né? Eu explico.

Me dava bem com o Gustavo desde a época do colégio. Até fazíamos competições para ver quem ficava com fulana de tal. Até o fim dos estudos, eu ganhava por 5x3. Talvez aí esteja a origem do problema. Até hoje, ele acha que a competição continua.

Mas calma lá, sempre foi um embate saudável. Nunca brigamos por mulher. A questão é que o Gustavo continuou querendo se provar mais pegador que eu, até enquanto namorava. Mesmo sem estímulo meu, ele se gabava das puladas de cerca e das gostosas que pegava. Beleza.

Certo dia, como de costume, marcamos para tomar um uisquezinho entre amigos no Bar Fuleiral. Como de costume, ele se atrasou. Enquanto eu tomava a primeira dose, liguei e ele respondeu que já ia chegar; estava só pagando a conta do motel. Beleza.

Gustavo chegou meia hora depois, com cara cínica, de mãos dadas com a namorada, mais cínica ainda. Rolava o papo, com outros três amigos, eu ficava só matutando que piada sem graça faria sobre o casal que acabara de saciar seus impulsos sexuais. Até que não resisti e comentei com a namorada dele:

- E aí, foi bom pra você?
- Bom o que?
- A saliência...
- Que saliência?
- A sacanagem!
- Que sacanagem?
- O inxirimento!
- Quê?!
- Ué, o Gustavo disse que vocês estavam no motel
- Motel? Eu não tava, ele acabou de me pegar em casa...  – respondeu, séria, quase com raiva.

Durante essa conversa, Gustavo me fitou com olhos arregalados, ficou empolado, suvaco pinicando e rosto enrubescido. Até que não resistiu, puxou uma garrafa de Cerpa Gold da mesa ao lado, quebrou-a com um golpe na mesa e me gargalou com o movimento de um lutador de esgrima. Minha única reação foi responder “O quê? Não! Cerpa?!”.

Beleza.