sábado, 5 de setembro de 2009

A arte de não fazer




Falar é uma arte. Dizer muito e não fazer nada, um dom. E nesse sentido, somos agraciados por Deus. Aqui, vale mais quem fala muito do que quem faz pouco. Como se a palavra, por si só, fosse suficiente para alguma coisa.

Algumas das pessoas mais respeitadas no Brasil têm a língua solta. No momento em que decidem ir à prática, dificilmente sai algo melhor do que aquilo que a gente manda para o esgoto apertando um botão. A retórica é o nosso forte; até a palavra soa pomposa.

A língua presa mais solta do Brasil é a do nosso presidente Lula. Passei minha infância e adolescência aterrorizado por suas profecias político-econômicas, que invariavelmente previam o caos. Bons tempos. Pior agora, que ele conseguiu a posição para implantar uma política caótica, igual – ou pior - àquela que ele denunciava, além de nunca abandonar a retórica estabanada que o faz cometer gafes Brasil afora.

Existem também os línguas-soltas profissionais, os comentaristas de esporte. São pessoas graduadas na faculdade da vida de falar mal do trabalho dos outros sem nunca ousar tentar fazer melhor. E ai de quem tentou. O comentarista esportivo da Rede Globo, Paulo Roberto Falcão, viveu os dois lados da moeda. Logo após o fracasso da Seleção na Copa de 1990, teve uma passagem insossa como técnico da seleção brasileira.

Provavelmente foi uma época que o convenceu a passar os 19 anos seguintes - e se continuar assim, o resto da vida – apenas falando que o time dos outros deveria jogar assim ou assado. Seu ex-colega de transmissão, o ex-jogador Walter Casagrande, já foi convidado a treinar grandes times do Brasil. Ingenuidade acreditar que ele aceitaria, ainda mais com um exemplo tão claro do seu lado. E o caso do maior jogador de todos os tempos, Pelé? Assim que encerrou a carreira como jogador, passou a ser requisitado para comentar sobre quase tudo no esporte e assumir cargos importantes, mas seus momentos mais tranqüilos dos últimos 30 anos de aposentado são na função de falador e não de fazedor, embora tenha pouca habilidade em ambas.

Apenas falar não exige compromisso de fazer. Arnaldo Jabor, por exemplo, é admirável na arte de denunciar e instigar o ouvinte ou leitor à revolta. Que ninguém ache que, apenas por isso, ele esteja habilitado à ação.

Eu mesmo acho que a queda dos juros vai ajudar as pequenas empresas, que o técnico Dunga deveria escalar o Alexandre Pato como titular e que minha empregada deveria passar menos o bife na frigideira. Enfim, deixem-me aproveitar minha posição de jornalista-comentarista-intrometido para melhorar o mundo. Assim serei reconhecido no Brasil, sem precisar arriscar minha cabeça em algo que não sei fazer.

4 comentários:

Giselle Viegas disse...

gostei do texto, nem vou falar mto depois disso.

Rafael Faraon disse...

Esses jornalistas... ehehehe

Guto Lobato disse...

AHAIEHEHAIOEHIOHEIOAH

PERFEITO

neuza disse...

falar de política com embasamento de de mídia televisa dá nisso. depois reclamam da desvalorização do diploma, mas esquecem que vocês desvalorizam a profissão =/