terça-feira, 11 de agosto de 2009

Nossos ancestrais




Dois jornalistas do Rio de Janeiro, dois de São Paulo, três paraenses, um filé de pescada amarela na mesa e eu. Numa janta no município de Breves, Marajó, o papo girava em torno de assuntos triviais para nós, comunicólogos intelequituais, como crise internacional, crise no senado e crise na televisão brasileira.

Por acaso, uma das jornalistas de São Paulo, de 54 anos - a mais velha à mesa - passou a contar a história de seus pais, avôs e bisavôs. Quem chegasse no meio da conversa daria por certo de que ela narrava um filme de ação em vez de contar a sobre a vida de seus ascendentes, de origem judaica.

- Meu avô era polonês, veio para o Brasil antes da Segunda Guerra Mundial. Quando Hitler invadiu a Polônia, o vô não acreditou e, contra os conselhos de todos os amigos, voltou para lá. Acabou sendo preso em um campo de concentração na Lituânia e morto durante a guerra.

O fotógrafo paraense e a repórter carioca, que falavam mal do programa No Limite em um diálogo a dois, deixaram o assunto de lado para voltar atenção à jornalista paulista de traços europeus e cabeleira volumosa.

- Quando fomos ao Museu da Replública com meu outro avô, ele se assustou e apontou para um daqueles carros do início do século passado, dizendo "eu costumava ir para a escola em um desses!" - contou, para risadas impressionadas de todos à mesa.

As boas histórias não eram só de ancestrais falecidos. A vida de sua mãe, Alice Brill, de 88 anos, também rende um bom roteiro cinematográfico. Fugindo do nazismo, ela foi trazida ao Brasil em 1934. Aqui, seguiu a carreira artística do pai - o avô da jornalista, o mesmo que morreu no campo de concentração. Fez dezenas de exposições de artes plásticas e fotografias. Hoje, é um nome conhecido na cena artística de São Paulo. É só checar no www.aipa.org.br/alice .

Ouvindo todo aquele lari-lari, em dado momento senti que era indispensável minha intervenção. Como todos estavam impressionados com aquelas historinhas sem graça, eu precisei falar um pouco sobre meus antigos. Mas não muito, para não causar discórdias.

- Meus pais são servidores públicos. Meu tio também era. Minha tia ainda é. Meu irmão mais velho também, assim como meu segundo irmão. Meu irmão mais novo acabou de passar num concurso e vai seguir no mesmo rumo...

Os olhares para mim eram impressionados. Ninguém mais queria saber sobre nazismo, judeus, guerra ou artes. Passei o resto da noite falando das beneces de uma vida mamando nas tetas do Estado, com os fins de semana de folga. Foi mal. Morram de inveja.

3 comentários:

Unknown disse...

Tu é um estraga prazer mesmo, hein. Pelo jeito tem muito jornalista interessado em fazer um concurso público.

Anônimo disse...

ela contava sobre a vida dos ASCENDENTES , e não DESCENDENTES.

O resto tá firme ! ahah

Giselle Viegas disse...

Eu diria: "agora só falta você (iê iêê), agora só falta você (ahaan)..."