sábado, 1 de agosto de 2009

As aventuras do superjornalista comunitário




Quem vê hoje João Brownpress Waxnose Pinto, compenetrado escrevendo para o Jornal Impessoal, de sua colossal tiragem de 20 exemplares, nem imagina sua origem humilde e as dificuldades que enfrentou para chegar à fama na passagem onde mora, no conjunto Che Guevara, em Marituba.

Embora, assim como a mãe de Lula, tenha nascido analfabeto, João sempre quis ser jornalista. Enfrentou tudo para alcançar seu objetivo: desde a oposição da sua família de agricultores de Jacareacanga, município ao extremo sudoeste do Pará; até sua grave alergia ao cedilha.

Tal defeito de saúde não seria problema se seu pai, nascido na Guiana Inglesa, tivesse decidido ficar na terra natal, onde não se escreve o "ç". Que nada. Desde as primeiras séries, sempre que escrevia um texto, tinha que contar com a ajuda de um amigo inseparável, que colocava sempre a perninha do "c" nos casos de cedilha.

Um dia, a professora quis forçá-lo a escrever a palavra "cachaça" no quadro. O trauma foi tão grande que, além de não ter conseguido - tirou zero em português -, ainda se tornou alcoólatra.

O principal atrativo do seu jornal é a forma arcaica com que é produzido. Avesso às novas tecnologias, João ainda uma máquina de datilografar herdada de seu tio-avô. Tudo estratégico, na verdade. É lógico que esse ancestral é da família de seu pai. Foi a melhor forma de encontrar uma desculpa para a ausência de cedilhas.

A aversão a eletrônicos é quase um Transtorno Obsessivo Compulsivo, o que torna o periódico um tanto quanto contraproducente. Em vez de xerocados, os 20 exemplares são datilografados um por um.

Era mais tranquilo quando havia o patrocínio da mercearia da esquina. Com os dólares a mais, Waxnose pagava uma secretária para "bater" os demais 19 exemplares. O comerciozinho foi fechado pela Vigilância Sanitária por vender produtos fora da validade. Uma semana depois, o dono foi preso por envolvimento no tráfico de drogas. Que seja. O problema é que, agora, a datilografia dá mais trabalho que as entrevistas.

Alguém a fim de patrociná-lo?

TO BE CONTINUED...

Um comentário:

Rafael Faraon disse...

Um texto perfeito para esse Oásis. Inútil, mas engraçado.

Agora essa caricatura tá "meia" estranha...