terça-feira, 9 de dezembro de 2014



Sou roqueiro. Não de usar calça colada e cabelão. Mas quase tudo que gosto se encaixa em algum subgênero do rock.

Só que o percentual tem mudado. Mesmo sem deixar de curtir o de sempre. É que contingências profissionais me forçam a digerir um cardápio musical mais sortido, bem diverso ao que meu estômago mental havia sido habituado. E como na culinária, o paladar se adapta.

Em dois anos de trabalho na Rádio Cultura FM, meu gosto sonoro se alargou em direções curiosas. Meus irmãos, com quem eu garimpava sons novos de rock e metal, vão fingir que nem me conhecem se souberem o que eventualmente ouço com algum prazer. É como seu eu fosse de uma família machista e tivesse que admitir que estou emboiolando. Já minha mãe vai ter orgulho. Ela sempre teve um gosto meio de mocinha, mesmo.

E até que estou gostando dessa brincadeira. Já vou até rebolando com uma certa naturalidade (musicalmente falando, claro). Trabalhar numa boa rádio expande a cultura musical.

Primeiro, fiz o programa Audição Especial. Eu tinha que ouvir todas as músicas de um álbum, mais de uma vez, com detalhes, além de pesquisar sobre a vida do artista. Conheci uma penca que nunca tinha ouvido falar (Tibério Azul, Kassim, Pélico...) e uns tantos outros que eu nunca havia parado pra escutar (Dorival Caymmi, Chico Buarque...).

Depois me veio o Tuitaí, o programa em que você pede no Twitter e a gente toca aqui, na 93,7. Aí cagou de vez. O mesmo bloco pode ter samba, metal, guitarrada e musica folclórica do leste europeu. Fulano pedia uma canção e eu pensava "esse artista aí deve ser um zé ruela", mas na hora de pesquisar, descobria que o cara tinha 10 álbuns, 30 anos de carreira, parcerias até com Frank Sinatra. Ou seja, o zé ruela, óbvio, era eu.

No Tuitaí, em uma hora de música rolam paradas que gosto e outras que me incomodam. Mas existe uma terceira classificação: positivamente indiferente. Ou seja, não incomoda e até dá um certo alívio por não estar ouvindo coisa pior.

Na caminhada rumo ao ecletismo, tem coisa que realmente não desce goela abaixo. Nem tapando o nariz, nem bebendo Coca-cola em seguida. São casos perdidos. Erros da Matrix. Cânceres sonoros. Peidos no elevador. Calos no ouvido. Chutes no saco. Quanto a esses, nos resta lamentar sua existência e torcer para que incêndios acidentais avariem todo o estoque de registros dessas coisas que até surdos relutariam em chamar de música.

Agora confira comigo exemplos de cada categoria:

Top 5 Nunca imaginei gostar:

1 - Roberto Carlos - O portão
2 - Tulipa Ruiz - Efêmera
3 - Zeca Baleiro - O Barco
4 - Chico Buarque - apesar de você
5 - Tom Zé - Tô

Top 5 Positivamente indiferentes

1 - Mauro Cotta
2 - Los Hermanos
3 - The Smiths
4 - Reginaldo Rossi
5 - Cazuza

Top 5 Nem pintado de ouro

1 - CENSURADO
2 - CENSURADO
3 - CENSURADO
4 - CENSURADO
5 - CENSURADO



2 comentários:

Jacqueline Iukisa disse...

Cheguei aqui através do blog da sua mãe enquanto procurava sobre bairros de Belém...acabei gostando!
Confesso que me identifiquei com o tema do post, pois o mesmo tem acontecido comigo...acho que a idade contribui para mudarmos os critérios que nos fazem avaliar algo como bom ou ruim!

Natália Botelho disse...

Interessante sua visão mas, creio que(como Newton não nos dizia) os semelhantes se atraem. Embora você tenha ampliado seu gosto musical, não me parece que essa expansão tenha fugido do que é musicalmente crítico, poético ou ácido, ou ácido-poético-crítico de uma só vez, mas deixemos a análise de tua maturidade musical um pouco de lado para eu despretensiosamente tentar inserir um pouco mais de diversidade pra um futuro "top seven" que tal: Belchior e Banda do Mar?