quinta-feira, 1 de maio de 2014




Com uns seis ou sete anos fui pra casa da minha tia Sandra ver corrida de Fórmula 1. Ela perguntou:

- Pra quem tu vais torcer?
- Não sei. Quem é que tem aí?
- Ah, tem fulano, beltrano, Nelson Piquet...
- Nelson? Nome do meu pai. Vou torcer pra ele
- Certo. Eu vou torcer pro Ayrton Senna.

Ela ganhou a disputa e eu comecei a entender que Ayrton Senna ganhar corrida era tão provável quanto Romário fazer gol.

No começo eu tinha dificuldade imensa pra identificar o brasileiro, já que eram dois carros iguais na pista. Quando percebi que o Senna tinha capacete amarelo, me dei conta de que havia gastado um bom tempo torcendo pro Alain Prost.

Inesquecível o clima elétrico da uma vitória do Senna, com a musica (TAN TAN TAAAN... VRUMMM). Era a única situação que meu pai, sempre avesso a barulho, aumentava o volume da TV até o talo.

Aí o Senna morreu. Morreu morreu, bola pra frente que tem Copa do Mundo.

Minha tristeza era mais pela consternação do país do que pela partida de um cara que eu mal conhecia e nem considerava pakas. Até hoje não entendo essa de me condoer por famosos.

Em 1994 também morreu Tom Jobim. Beleza, acontece. Dois anos depois, foi-se Renato Russo. Meus amigos e até a minha mãe achavam que eu fosse chorar, já que minha banda preferida tinha acabado. Coisa tenhuma. Preferir ir capinar um lote (metaforicamente falando, jogar Sim City 2000) e tocar a vida adiante.

Por fim, sempre me irritou a excessiva superioridade dos mortos sobre os vivos. Juro que nao é polemiquismo meu, até gostaria que me ajudassem:

Por que o Senna é melhor que o Prost?
Por que o Senna é melhor que o Schumacher?

Até agora minha conclusão é: porque Senna morreu.

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