quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Crônicas de Nada: A Fuga



É um momento tenso. Um movimento em falso e já era.

O ideal é fazer o trajeto de noite; a escuridão favorece o fugitivo. Mas não é tudo. É necessária técnica - o que apurei com anos de treino. Só que não há habilidade que garanta o êxito. A gente sempre tem que contar com um pouco de sorte.

O princípio básico é você fingir ser qualquer um, apenas um na multidão. Pokerface mesmo, sabe? Esse é até meu ponto fraco. Só jogo poker pela internet. Não adianta nada.



Mas dou a largada. Começo com o primeiro passo na calçada. Há pessoas passando. Carros, ônibus, motos. Dobro à direita e sigo adiante. Aí entra o passo número dois: o jeito de caminhar. Nem penso em apertar o passo, andando para o chão. Eles farejam de longe os apressados. O segredo é a naturalidade. Como em uma dança, meu ritmo tem que ser igual ao de todos no salão - nesse caso, da rua.

A ansiedade atrapalha. Eles identificam tensão em um raio de 1,5 quilômetro. Se exalar de você, "crau".

Dobro à direita de novo, desvio de dois buracos do chão. Começo a me flagrar tenso e olho no relógio, pra disfarçar. Olho de boa, sem parecer apressado. Tento caminhar meio gingado, feliz. Já venci metade do caminho, mas ainda não há nada garantido.

Eles estão no outro lado da rua. Eu sei disso porque estão sempre lá. Não posso olhar, seria fatal. Eles me veem, mas não chamo atenção, faço parte da paisagem deles. Sou como um carro, uma velhinha segurando um bebê, um cachorro que passa. Apenas ando.

Quem chega a este ponto sem ser observado já tem grande chance de êxito. Isso se já não estiver sendo seguido, claro. Mas não posso olhar para trás. Se me seguem, perdi, não há o que fazer; se não, devo apenas ir adiante com o plano. Suo frio. Meu suvaco começa a ficar melado, mas ninguém percebe.

Passo por um trecho mais escuro, embaixo de umas árvores, fico mais tranquilo. Desvio de uma mesa e algumas cadeiras. As pessoas estão conversando naturalmente. Olham-me, mas não me veem. Melhor assim. Alguém atento perceberia que minha blusa já está suada no suvaco. Faltam só uns dez passos.

Cheguei, agora é agir rápido. Ligo o carro, engato a primeira e arranco logo. Só depois ligo o farol, coloco o cinto de segurança e baixo os vidros. O sangue desce do corpo, os músculos relaxam. Olho-me no espelho do carro, orgulhoso, e falo pra mim mesmo: parabéns, você acaba de economizar um real do flanelinha.

Um comentário:

Loredana disse...

Só tu msm pra fazer um post falando de flanelinha hahahahha mais mão de vaca do q tu ñ conheço. Só tá perdoado pq ninguém merece esses flanelinhas por todo canto, e olha q aqui na rua ñ é um real q eles cobram, e sim dez reais e adiantado!!!