domingo, 31 de janeiro de 2010

Reflexões sobre a cornice humana



Um dia, cheguei com um amigo e perguntei:

- Tu trais tua mulher?
- Sempre que consigo - respondeu, confiante.

Outro dia, numa conversa com outros dois amigos, questionei um deles:

- Por que tu não tá mais casado?
- É que minha mulher me deixou porque achou que eu tivesse tido um caso com outra.
Daí eu perguntei:
- E tu teve?
- Sim. O ser humano não foi feito para a monogamia. Há uma forte corrente antropológica que... - o terceiro integrante da conversa interrompe:
- Ei rapaz, fala por ti.
- Então tu nunca traiu tua esposa? - perguntei pra este
- Cara, tô separado há seis meses.
- E a separação não tem nada a ver com traição?
- Ei, continua aí contando tua história - concluiu, com um sorriso cínico.

Em mais um diálogo, com um amigo que, até antes desse papo, eu considerava como exemplo de dignidade humana, para justificar sua atual promiscuidade - em solteirice - ele dizia:

- Rapaz, em seis anos de relacionamento, nunca traí minha namorada. Aliás, só teve uma vez. Não, teve outra também, mas é que estava só eu e ela numa rede de noite, ela me atentou e não teve jeito.
- Hum. - disse eu.
- Mas tirando essas duas, nunca traí minha ex-namorada! - completou, com orgulho.

Visão animal artística de Tessalia e Michel, com a ex dele em primeiro plano

Deixe-me explicar minha teoria. Quando nascemos, tomamos vacina infectada pelo vírus da safadeza (o cão foi que botô pra nós beber). Ele se replica inocentemente na infância e só começa a dar os primeiros sinais durante o nascimento da saliência adolescente. Durante a puberdade, o paciente sente os primeiros desconfortos e luta contra os sintomas. Mas quase todos se entregam ao ver que a sacanagem é generalizada, aceita, bem vinda e até estimulada entre os seus iguais.

Infidelidade no meio masculino é tão normal quanto assaltante na Terra Firme. Ambas atitudes são crimes igualmente estúpidos e injustificáveis. Aliás, a traição ainda é pior, porque vai contra alguém que o bandido diz amar, enquanto o roubo é contra qualquer bunda-mole que dê...mole.

Pesquisa da UFRJ aponta que 60% dos homens confessam a traição contra 47% das mulheres.
O interessante é que, em vez de combater a doença, as pessoas simplesmente se rendem a ela. Não só os homens; todo mundo. Por exemplo: estudo da USP constatou que apenas um em cada quatro brasileiros casados espera que o parceiro seja fiel. Isso significa que 75% das pessoas casadas acreditam que serão traídas. Há outras pesquisas que mostram uma certa improbabilidade de um homem chegar aos 80 anos sem nunca ter pulado a cerca. E existem a Associação dos Cornos de Rondônia e a Associação dos Mal Amados do Ceará. Sério.

Num local normal de trabalho, os homens são divididos em dois grupos: os pilantras e os bem intencionados. Os cafajestes se dividem entre os que traem abertamente e os que traem sorrateiramente; já os quase bonzinhos ou tentam não trair, ou não traem. Ninguém desse último grupo foi encontrado para conceder entrevista.

A maioria anda assim


 
A bacanagem humana é o principal sinal de que o mundo está perdido, falido. E não adianta fugir para as montanhas. Até porque o friozinho e a escuridão de lá tornam o ambiente favorável para a sacanagem. Não, nunca estive lá.

Aos homens, não adianta reclamar, porque vocês sabem que é assim.

Às mulheres, resta apenas reclamar, porque vocês também sabem que é assim.

O dia que eu descobrir o antídoto para esse vírus, aviso vocês.

Eu só quis dizer.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A mente de um blogueiro




Eu sou normal. Cresci da maneira que minha glândula adeno-hipófise esperava ao lançar o hormônio somatotrófico pelo meu corpo. Meu cérebro também se desenvolveu bonitinho, sem retardos nem poderes telepáticos. Só uma parte dele é que não quis se desvincular totalmente da infância: minha imaginação.

Assim como hoje sou um adulto comum, fui uma criança regular em todos os aspectos. Inclusive por gostar de viajar com os pensamentos, como o Doug Funnie fazia para se desatrelar da realidade na pele do Homem Codorna. Nunca cheguei ao ponto de tomar atitudes baseadas em fantasias, como o personagem de desenho; por outro lado, acho que eu viajava mais pesado em algumas conversas neuroniais.



Minha cabeça continua assim; só muda o conteúdo


Minhas dificuldades na escola começaram porque, enquanto o professor falava, eu construía um mundo mental paralelo. Até hoje, eventualmente me pego em um pensamento que se torna tão real e intenso - quase como um subsonho - que, ao "acordar", me assusto e fico com o coração batendo mais forte. Construo involuntariamente roteiros complexos, cheios de suposições fantasiosas, em qualquer momento de menor atividade corporal e mental. Ao fim, vai tudo direto para o Aterro Sanitário Cerebral do esquecimento.

Na verdade, ia. Alguma coisa eu distribuo entre diálogos freudianos com minha gatinha, meditações transcedentais e auto-lavagem cerebral. A parte igualmente irrelevante, mas com algum sentido, eu organizo e escrevo neste blog, enquanto que os pensamentos mais isolados escorregam no Twitter como se numa privada. E mesmo assim a maior parte das imaginações fúteis ainda sobra. Essas, sim, vão para o Aterro Sanitário Cerebral.

Do aterro, leva um tempo até a aniquilação total do esquecimento. Enquanto isso, todas as besteiras em que eu já pensei vêm à tona durante meus sonhos, como se alguém pegasse o lixeiro da cozinha e espalhasse o conteúdo por toda a casa. Quando acordo, faço uma rápida faxina para separar o que é útil ou não e sigo a vida, em produção ininterrupta.



"Imaginação é mais importante que conhecimento"
Se o cara falou, tá falado


Minha mente é fértil por que o adubo abunda. Eu sei que todo mundo tem imaginação, todos pensam besteira. Mas, provavelmente - e hoje, com alguma influência de cinco anos de jornalismo - às vezes acho que minha produção de fantasias é um pouco mais acelerada.

Por exemplo, há pensamentos que são divertidos como hobbies. Se alguém interrompe, depois eu fico cavucando minha mente para recaptar aquela imaginação que me entretinha.

O tipo de pensamento mais bacana é a fantasia: "Como seria se eu morasse em São Paulo? Ou em Nova Iorque?". São legais também as suposições inviáveis, tipo: "O que eu faria com R$ 40 milhões?"; "E se eu fosse famoso?"; "E o Remo na Libertadores?".

Quando eu era pré-adolescente e pegava muito ônibus, ficava me imaginando durante o trajeto como eu seria se fosse o motorista. Deixaria moleques de 10 anos subirem pela frente sem pagar? Já na adolescência, passei a hipotetizar eu como professor, o que quase me faz escolher Licenciatura em História para o vestibular.

Já supus de tudo. O resultado é mais ou menos assim: "eu como...

- Ator seria uma mistural de Mateus Nachtergaele com o Fiuk de caganeira;

- Jogador de futebol seria meio Bebeto, o chorão cai-cai; e meio Jonas do Grêmio, que perde gol demais;

- BBB seria um cara meio nonsense, mas sairia logo do programa por não me encaixar em nenhuma das tribos, mesmo sendo inofensivo;

- Astronauta morreria na minha espaçonave por esquecer de apertar um botão importante, no tédio do espaço;

- Advogado seria uma atração pros estagiários de direito. Excessivamente bem humorado ao falar, fugindo de todos os estereótipos e constantemente repreendido pelo juiz;

- Presidente da República falaria quase tanta merda quanto o Lula, mas não faria tanta assim;

- Músico cansaria de repetir minhas músicas o tempo todo e entraria no ostracismo;

E, finalmente, como:

- Jornalista tentaria ser um blogueiro de sucesso.



E você, como seria?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010