Um dia, cheguei com um amigo e perguntei:
- Tu trais tua mulher?
- Sempre que consigo - respondeu, confiante.
Outro dia, numa conversa com outros dois amigos, questionei um deles:
- Por que tu não tá mais casado?
- É que minha mulher me deixou porque achou que eu tivesse tido um caso com outra.
Daí eu perguntei:
- E tu teve?
- Sim. O ser humano não foi feito para a monogamia. Há uma forte corrente antropológica que... - o terceiro integrante da conversa interrompe:
- Ei rapaz, fala por ti.
- Então tu nunca traiu tua esposa? - perguntei pra este
- Cara, tô separado há seis meses.
- E a separação não tem nada a ver com traição?
- Ei, continua aí contando tua história - concluiu, com um sorriso cínico.
Em mais um diálogo, com um amigo que, até antes desse papo, eu considerava como exemplo de dignidade humana, para justificar sua atual promiscuidade - em solteirice - ele dizia:
- Rapaz, em seis anos de relacionamento, nunca traí minha namorada. Aliás, só teve uma vez. Não, teve outra também, mas é que estava só eu e ela numa rede de noite, ela me atentou e não teve jeito.
- Hum. - disse eu.
- Mas tirando essas duas, nunca traí minha ex-namorada! - completou, com orgulho.
Visão animal artística de Tessalia e Michel, com a ex dele em primeiro plano
Deixe-me explicar minha teoria. Quando nascemos, tomamos vacina infectada pelo vírus da safadeza (o cão foi que botô pra nós beber). Ele se replica inocentemente na infância e só começa a dar os primeiros sinais durante o nascimento da saliência adolescente. Durante a puberdade, o paciente sente os primeiros desconfortos e luta contra os sintomas. Mas quase todos se entregam ao ver que a sacanagem é generalizada, aceita, bem vinda e até estimulada entre os seus iguais.
Infidelidade no meio masculino é tão normal quanto assaltante na Terra Firme. Ambas atitudes são crimes igualmente estúpidos e injustificáveis. Aliás, a traição ainda é pior, porque vai contra alguém que o bandido diz amar, enquanto o roubo é contra qualquer bunda-mole que dê...mole.
Pesquisa da UFRJ aponta que 60% dos homens confessam a traição contra 47% das mulheres.
O interessante é que, em vez de combater a doença, as pessoas simplesmente se rendem a ela. Não só os homens; todo mundo. Por exemplo: estudo da USP constatou que apenas um em cada quatro brasileiros casados espera que o parceiro seja fiel. Isso significa que 75% das pessoas casadas acreditam que serão traídas. Há outras pesquisas que mostram uma certa improbabilidade de um homem chegar aos 80 anos sem nunca ter pulado a cerca. E existem a Associação dos Cornos de Rondônia e a Associação dos Mal Amados do Ceará. Sério.
Num local normal de trabalho, os homens são divididos em dois grupos: os pilantras e os bem intencionados. Os cafajestes se dividem entre os que traem abertamente e os que traem sorrateiramente; já os quase bonzinhos ou tentam não trair, ou não traem. Ninguém desse último grupo foi encontrado para conceder entrevista.
A maioria anda assim
A bacanagem humana é o principal sinal de que o mundo está perdido, falido. E não adianta fugir para as montanhas. Até porque o friozinho e a escuridão de lá tornam o ambiente favorável para a sacanagem. Não, nunca estive lá.
Aos homens, não adianta reclamar, porque vocês sabem que é assim.
Às mulheres, resta apenas reclamar, porque vocês também sabem que é assim.
O dia que eu descobrir o antídoto para esse vírus, aviso vocês.
Eu só quis dizer.