quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Tuiteiros e suas subclasses




Relutei em entrar no Twitter, primeiro porque ninguém sabia explicar o que era e para que servia. Hoje, usuário assíduo, vejo que tudo o que me falavam sobre o Twitter não tinha nada a ver com o que ele é.

Meus diálogos em torno do assunto eram algo do tipo:

- Mas qual é a graça de um troço que todo mundo escreve até 140 caracteres?
- Ah, é legal, vai entra, entra, entra!
- O Twitter parece ser um Orkut piorado, um MSN 0.2 limitado...
- É bacaaaana, tu é o único jornalista do mundo que não tem Twitter. FAZ LOGO O TEU!

Pensei "por que entrar?", "por que não entrar?" e, depois de um "somebody love", acabei fazendo meu cadastro. Mas o fator decisivo foi uma conversa com o Anderson Jorge (www.bebadogonzo.blogspot.com). "Cara, o Twitter é realmente uma bosta como tu tá achando", disse-me. Orgulhoso por estar certo, resolvi ceder para poder criticar com mais propriedade.

Depois de uns dois meses de uso contínuo desta magnífica ferramenta de microblogging (ui!), pude verificar um padrão de comportamento entre os usuários. Com base em três semanas de intensas pesquisas nas bibliotecas das universidades de Harvard, Yale e Fapan, além de entrevistas com professores de Massachusets, Fabel e Columbia Pictures (?), me sinto em condições de passar a vocês as minhas impressões.

Claro, com a devida vênia de @pedrox, o único que pode falar sobre o Twitter com verdadeira propriedade, já que criador e criatura se confundem. Sei que corro o risco de sofrer uma trovoada de nosso todopoderoso colega por falar o nome do Twitter em vão sem sua expressa autorização, mas ponho minha conta em risco. Espero sobreviver, enfim.


Que tipo de tuiteiro você é?


Já ouviram falar sobre empresas de recursos humanos que usam o Orkut como uma das fontes de informação para seleção de candidatos? Poisé. No mesmo sentido, é possível afirmar que a forma de uma pessoa tuitar fala tudo que se precisa saber sobre sua personalidade.

Psicólogos modernos com pós-doutorado em mídias-eletrônicas-sociais-inúteis são capazes de identificar, com base em três tuitadas, se a pessoa sofreu abuso sexual na infância, seu prato preferido ou a posição em que costuma dormir.

É possível fazer um mapa-astral com base naquilo que você expõe no Twitter. Suas ânsias, vontades, paixões, desejos, frescuras, boiolices, são todas impressas intrinsecamente em cada um dos 140 caracteres digitados em uma gorgeada virtual. Portanto, seu passarinho retardado, cuidado com o que você tuíta!

Confira os perfis mais frequentes identificados pelos psicólogos doutores em mídias-eletrônicas-sociais-inúteis. Importante ressaltar que um tuiteiro pode ter mais de um perfil dos listados abaixo, mas provavelmente um deles irá prevalecer.


Tuiteiro Compulsivo:

Também conhecido como Tuiteiro Narcisista, pode ser comparado ao bêbado no Karaokê, que não larga o microfone. Ele acha que é o único seguido por todos os seus followers. Por isso, se dá ao direito de metralhar caracteres malucamente. Acha que, se ficar duas horas sem tuitar, tem que compensar contando tudo o que fez nesse meio tempo - até o número de pedaços de merda que cagou na sua última visita à privada.

Uma das características do tuiteiro compulsivo é sua enorme capacidade de reunir imenso número de unfollows em poucos segundos. Tal capacidade é normalmente potencializada com uma habilidade acima da média de contar piadas sem graça e - pior - achar que todo mundo tá gostando.

Tuiteiro Vagalume

É o cara que fez seu cadastro no Twitter só por fazer e dá sinal de vida a cada três meses. Como um vagalume, hora aparece; hora some. Provavelmente entrou na onda por insistência dos amigos mas não teve a paciência de usar por uma semana direto, para sacar como a parada funciona. Inclui famosos que querem se passar por moderninhos.

Ele não se deu oportunidade ao vício mas, de vez em quando lembra "rapaz, e o Twitter, como será que tá?", e entra pra dar uma olhada e tuitar qualquer coisa. Normalmente seus únicos followers são outros Tuiteiros Vagalumes, já que pessoas normais não gastam nem meio byte seguindo múmias virtuais.

Tuiteiro Conta-gotas

Muito diferentes dos Vagalumes, os Tuiteiros Conta-gotas costumam passar o dia inteiro online, sempre dando F5 na página do Twitter pra saber o que tá rolando. A diferença é que eles são metidos a sábios e querem ser conhecidos como OS CARAS, que soltam apenas GRANDES PÉROLAS para benefício da humanidade.

Alguns são bem-humorados, outros são rabugentos. Em comum eles têm o ódio mortal a todo Tuiteiro Compulsivo. Para eles, uma tuitada deve ser sempre algo relevante em prol do progresso da comunidade nerd. Por isso, os prolixos deveriam ser banidos do sistema internetal. "Maldita inclusão digital", pensam a respeito dos demais.

Tuiteiro no Divã

É a garotinha que foi chifrada pelo namorado e vai xingá-lo para todo mundo ouvir. É o funcionário que reclama da suvaqueira do patrão. É a dona-de-casa que divide com os outros coisas como as brochada do marido, o filho que cagou-se nas calças de novo, a conta do telefone e o arroz queimando na panela.

Tuiteiro no Divã parte do princípio que seus followers são todos psicólogos pagos e prontos para ouvir suas agrúrias. O Twitter é seu muro das lamentações, seu Poço dos Desejos, seu saco de pancadas, enfim, um útil instrumento para descarga das tensões diárias.


Tuiteiro Reclamão


Não confunda com o do Divã. Nada a ver. O Reclamão não fala de si; ele mete pau nos outros (ai!). Toda música que toca é uma merda. Todo filme da Globo é bosta. "Aliás, Band, SBT, Rede TV e todas do canal fechado é tudo mesma porcaria".

Se o preço do dólar cai, algum dejeto o Governo Federal fez pra defecar nas exportações. Se o preço sobe, o governo cagão tá ferrando com a gente coitada que quer importar eletrônicos. Novela boa era Roque Santeiro e a última partida razoável de futebol da seleção brasileira foi em 1982.

O trabalho tá escroto. O estudo foi ruim. As ruas são engarrafadas e esburacadas. A cidade está perigosa. Tudo uma merda e não há nada de bom. TUDO É MERDA, OUVIU? Tá olhando o que? Seu follower de merda...

Tuiteiro Poeta

Inútil é a gorjeada que não suscita reflexões capazes de mudar dialeticamente a memória histórico-semântica de um povo em construção. Não acham? Nem eu. Mas o Tuiteiro Poeta tem certeza.

Na ânsia de falar bonito, acaba soltando besteiras dignas de um Vade Mecum de pérolas. A questão é que, via de regra, é gente famosa, quase-famosa ou pseudo-famosa que embarca nessa onda. Então, não importa o tamanho do paradoxo tuitado; vai sempre ter mais follower babão batendo palma do que nego dando unfollow. E a fama crescente será o gás para mais poesias semântico-contraditórias.


Tuiteiro Milton-neves

Para esses aqui, o Twitter é mais uma ferramenta para expansão da "alma de seu negócio". Em vez de se limitar a divulgar um blog recém-atualizado, o Tuiteiro Milton-neves vive apontando algum link de propaganda para alguma coisa, incluindo para sua própria vanglória.

Pode ser a festa de formatura da sala da irmã da filha da empregada que trabalha com a vizinha de sua enteada, que tá precisando de uma forcinha; ou até o pedido de uma ajuda para participar de uma promoção em que precisa de muitas indicações de amigos. A verdade é que você já sabe que sua tuitada vai ser pra pedir que você faça alguma coisa que não está nem um pouco afim de fazer - e sequer de ler.

Ainda não tive esse prazer, mas, antropologicamente falando, deve ser interessante seguir um Tuiteiro Milton-neves xiita da Herbalife...

Tuiteiro Caça-follower

Seu sonho é ser visto como uma celebridade do mundo virtual, tipo a @Twitess, que não é $%¨& nenhuma e todo mundo conhece. É mais comum entre adolescentes, ávidos por auto-afirmação.

A ideologia do Caça-follower é seguir todo mundo, na esperança de ser seguido também. Se, dentro de alguns poucos dias, não for seguido, dá unfollow e parte para a próxima.

Em vez de fazer propagandas de sites ou outras chatices, o Caça-follower cria complexas redes de amizades para tráfico de influência. Os followers são vistos como mercadorias. Entre acordos, dois caçadores se compromentem a se citar reciprocamente em um #followfriday para conseguir mais adeptos.

No final das contas, é uma suruba desgraçada de todo mundo se seguindo. O Caça-follower de repente vê sua timeline cheia de tuitadas inúteis, com origem desconhecida. Pelo menos, pode se orgulhar de ter mais de dois mil followers! Rá, morram de inveja!


Vocês conhecem quem se encaixa em algum dos casos? Digam, falem, tuitem, comentem!

sábado, 5 de setembro de 2009

A arte de não fazer




Falar é uma arte. Dizer muito e não fazer nada, um dom. E nesse sentido, somos agraciados por Deus. Aqui, vale mais quem fala muito do que quem faz pouco. Como se a palavra, por si só, fosse suficiente para alguma coisa.

Algumas das pessoas mais respeitadas no Brasil têm a língua solta. No momento em que decidem ir à prática, dificilmente sai algo melhor do que aquilo que a gente manda para o esgoto apertando um botão. A retórica é o nosso forte; até a palavra soa pomposa.

A língua presa mais solta do Brasil é a do nosso presidente Lula. Passei minha infância e adolescência aterrorizado por suas profecias político-econômicas, que invariavelmente previam o caos. Bons tempos. Pior agora, que ele conseguiu a posição para implantar uma política caótica, igual – ou pior - àquela que ele denunciava, além de nunca abandonar a retórica estabanada que o faz cometer gafes Brasil afora.

Existem também os línguas-soltas profissionais, os comentaristas de esporte. São pessoas graduadas na faculdade da vida de falar mal do trabalho dos outros sem nunca ousar tentar fazer melhor. E ai de quem tentou. O comentarista esportivo da Rede Globo, Paulo Roberto Falcão, viveu os dois lados da moeda. Logo após o fracasso da Seleção na Copa de 1990, teve uma passagem insossa como técnico da seleção brasileira.

Provavelmente foi uma época que o convenceu a passar os 19 anos seguintes - e se continuar assim, o resto da vida – apenas falando que o time dos outros deveria jogar assim ou assado. Seu ex-colega de transmissão, o ex-jogador Walter Casagrande, já foi convidado a treinar grandes times do Brasil. Ingenuidade acreditar que ele aceitaria, ainda mais com um exemplo tão claro do seu lado. E o caso do maior jogador de todos os tempos, Pelé? Assim que encerrou a carreira como jogador, passou a ser requisitado para comentar sobre quase tudo no esporte e assumir cargos importantes, mas seus momentos mais tranqüilos dos últimos 30 anos de aposentado são na função de falador e não de fazedor, embora tenha pouca habilidade em ambas.

Apenas falar não exige compromisso de fazer. Arnaldo Jabor, por exemplo, é admirável na arte de denunciar e instigar o ouvinte ou leitor à revolta. Que ninguém ache que, apenas por isso, ele esteja habilitado à ação.

Eu mesmo acho que a queda dos juros vai ajudar as pequenas empresas, que o técnico Dunga deveria escalar o Alexandre Pato como titular e que minha empregada deveria passar menos o bife na frigideira. Enfim, deixem-me aproveitar minha posição de jornalista-comentarista-intrometido para melhorar o mundo. Assim serei reconhecido no Brasil, sem precisar arriscar minha cabeça em algo que não sei fazer.