sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Meu arcaico antivírus...

...contra gripe suína-cibernética.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Nossos ancestrais




Dois jornalistas do Rio de Janeiro, dois de São Paulo, três paraenses, um filé de pescada amarela na mesa e eu. Numa janta no município de Breves, Marajó, o papo girava em torno de assuntos triviais para nós, comunicólogos intelequituais, como crise internacional, crise no senado e crise na televisão brasileira.

Por acaso, uma das jornalistas de São Paulo, de 54 anos - a mais velha à mesa - passou a contar a história de seus pais, avôs e bisavôs. Quem chegasse no meio da conversa daria por certo de que ela narrava um filme de ação em vez de contar a sobre a vida de seus ascendentes, de origem judaica.

- Meu avô era polonês, veio para o Brasil antes da Segunda Guerra Mundial. Quando Hitler invadiu a Polônia, o vô não acreditou e, contra os conselhos de todos os amigos, voltou para lá. Acabou sendo preso em um campo de concentração na Lituânia e morto durante a guerra.

O fotógrafo paraense e a repórter carioca, que falavam mal do programa No Limite em um diálogo a dois, deixaram o assunto de lado para voltar atenção à jornalista paulista de traços europeus e cabeleira volumosa.

- Quando fomos ao Museu da Replública com meu outro avô, ele se assustou e apontou para um daqueles carros do início do século passado, dizendo "eu costumava ir para a escola em um desses!" - contou, para risadas impressionadas de todos à mesa.

As boas histórias não eram só de ancestrais falecidos. A vida de sua mãe, Alice Brill, de 88 anos, também rende um bom roteiro cinematográfico. Fugindo do nazismo, ela foi trazida ao Brasil em 1934. Aqui, seguiu a carreira artística do pai - o avô da jornalista, o mesmo que morreu no campo de concentração. Fez dezenas de exposições de artes plásticas e fotografias. Hoje, é um nome conhecido na cena artística de São Paulo. É só checar no www.aipa.org.br/alice .

Ouvindo todo aquele lari-lari, em dado momento senti que era indispensável minha intervenção. Como todos estavam impressionados com aquelas historinhas sem graça, eu precisei falar um pouco sobre meus antigos. Mas não muito, para não causar discórdias.

- Meus pais são servidores públicos. Meu tio também era. Minha tia ainda é. Meu irmão mais velho também, assim como meu segundo irmão. Meu irmão mais novo acabou de passar num concurso e vai seguir no mesmo rumo...

Os olhares para mim eram impressionados. Ninguém mais queria saber sobre nazismo, judeus, guerra ou artes. Passei o resto da noite falando das beneces de uma vida mamando nas tetas do Estado, com os fins de semana de folga. Foi mal. Morram de inveja.

sábado, 1 de agosto de 2009

As aventuras do superjornalista comunitário




Quem vê hoje João Brownpress Waxnose Pinto, compenetrado escrevendo para o Jornal Impessoal, de sua colossal tiragem de 20 exemplares, nem imagina sua origem humilde e as dificuldades que enfrentou para chegar à fama na passagem onde mora, no conjunto Che Guevara, em Marituba.

Embora, assim como a mãe de Lula, tenha nascido analfabeto, João sempre quis ser jornalista. Enfrentou tudo para alcançar seu objetivo: desde a oposição da sua família de agricultores de Jacareacanga, município ao extremo sudoeste do Pará; até sua grave alergia ao cedilha.

Tal defeito de saúde não seria problema se seu pai, nascido na Guiana Inglesa, tivesse decidido ficar na terra natal, onde não se escreve o "ç". Que nada. Desde as primeiras séries, sempre que escrevia um texto, tinha que contar com a ajuda de um amigo inseparável, que colocava sempre a perninha do "c" nos casos de cedilha.

Um dia, a professora quis forçá-lo a escrever a palavra "cachaça" no quadro. O trauma foi tão grande que, além de não ter conseguido - tirou zero em português -, ainda se tornou alcoólatra.

O principal atrativo do seu jornal é a forma arcaica com que é produzido. Avesso às novas tecnologias, João ainda uma máquina de datilografar herdada de seu tio-avô. Tudo estratégico, na verdade. É lógico que esse ancestral é da família de seu pai. Foi a melhor forma de encontrar uma desculpa para a ausência de cedilhas.

A aversão a eletrônicos é quase um Transtorno Obsessivo Compulsivo, o que torna o periódico um tanto quanto contraproducente. Em vez de xerocados, os 20 exemplares são datilografados um por um.

Era mais tranquilo quando havia o patrocínio da mercearia da esquina. Com os dólares a mais, Waxnose pagava uma secretária para "bater" os demais 19 exemplares. O comerciozinho foi fechado pela Vigilância Sanitária por vender produtos fora da validade. Uma semana depois, o dono foi preso por envolvimento no tráfico de drogas. Que seja. O problema é que, agora, a datilografia dá mais trabalho que as entrevistas.

Alguém a fim de patrociná-lo?

TO BE CONTINUED...