quinta-feira, 2 de julho de 2009

O jeans, as penetras e uma certa inexperiência




Tudo começou com o que parecia ser uma oportunidade imperdível. A mãe de Kathy, uma promotora de eventos, foi a responsável pelo casamento de do futebolista Roberto Carlos. Doida pra ir, ela recebeu um "não" da mãe, Raquel, sob mil justificativas pertinentes. Já resignada, recebeu lá pelas 9 horas da noite, uma ligação da mãe dizendo que a barra estava limpa, a cerimônia já havia passado e que ela poderia aparecer lá para a comilança, junto com sua amiga, Carol. A recomendação materna era apenas que as duas fingissem não conhecê-la e dissessem na entrada ser amigas de Gisele, irmã do Roberto Carlos - que era uma "simpatia de pessoa". Feito isso, entraram sem problemas e passaram a encher o bucho com nobres iguarias, ao som de um harmonioso pagodão típico de jogadores de futebol, nada condizente com o suntuoso ambiente do terraço da Daslu.

Um pecado mortal, contudo, complicou a história. Kathy vestia um informal jeans. Ela não teve tempo de se arrumar, pois foi avisada pela mãe muito em cima da hora. Na entrada, foi observada pela recepcionista, que avisou os seguranças: "fiquem de olho, tem uma moça de jeans, verifique quem é", disse. Outra moça da organização da festa abordou a dupla de penetras e lhes perguntou de quem eram convidadas. Pausa. Momento de tensão. De súbito o pagode interrompe e passa a tocar uma música sombria, dramática - não de verdade, mas na sensação das duas amigas. Carol fica corada de vergonha e a voz trava. Kathy olha para os lados, se estende um pouco para frente para chegar mais perto da recepcionista, como se fosse contar um segredo, e diz, caguejando:

- So...somos convidadas da Gisele...
- Falei com ela e ela disse que não as conhece - retruca a recepcionista, com educação e seriedade.





Neste momento, as amigas querem apertar um botão para ficar invisíveis. Se arrependem amargamente de ter ido à festa e têm vontade de implorar por piedade para não passarem vergonha mas, claro, não fazem isso, pois senão o mico seria muito maior. Kathy se arrepende de ter pedido à mãe para ter ido à festa. Carol não se perdoa por ter se metido na empreitada, se culpa por ter conhecido Kathy, de ter estudado no mesmo colégio que ela, de ter colado na prova de matemática da 5ª série, de ter mentido para os pais quando tinha 8 anos dizendo que estava doente só porque não queria ir para a aula.... Aproveitou também para se arrepender de ter nascido.

Não adiantou. Enquanto Kathy, com os olhos cheios de lágrimas, tentava ligar para o celular de sua mãe, um segurança enorme chegou. Em seguida, mais três seguranças, com uns três metros de altura. Outras quatro moças da recepção foram dar apoio, talvez para não deixar as meliantes tomarem uma atitude desastrada. Sem resposta materna, as amigas tiveram que sair como se fossem detentas, cercadas por oito pessoas de preto.

Durante o humilhante trajeto de saída, se sentindo observada, julgada, xingada e desprezada por todos os olhares desdenhados dos convidados, Kathy tentou reagir:

- Calma, estou ligando pra Raquel.
- O que ela tem a ver com isso? A Raquel não pode trazer amigas - rebate uma das recepcionistas que a cercava.

Já no elevador, só com três seguranças, um deles pergunta:

- Vocês são amigas da Raquel?
- Sou filha dela - responde Kathy.
- Ai, agora $%¨& - lamenta, olhando para os companheiros - Desculpe, só estávamos cumprindo ordens - diz às amigas penetras, tentando se justificar, mas sem poder desfazer o que era feito.

***

Ao abrirem-se as portas, quase o coração delas quase pula para fora. Mais um momento de tensão. Deram de cara com o noivo, Roberto Carlos, no alto de seu 1,68 metro de altura, que esperava o elevador para subir ao local da recepção. Em vez de passarem despercebidas, Roberto Carlos foi estranhamente solícito.

- Por que vocês já estão indo embora tão cedo? Ainda nem servimos a sobremesa...
- Err... - respondem Carol e Kathy, quase em uníssono, enquanto se entreolham.
- Sobe de novo, Márcia - disse, olhando para Carol, que ficou ainda mais sem ação ainda - ainda nem servimos a sobremesa. Vocês vão adorar - termina, pegando na mão de Carol e olhando para Kathy, sem conseguir desgrudar os olhos para as partes baixas da pobre, modeladas pelo finíssimo jeans.

De cara com o anfitrião famoso, as duas ficaram sem reação. Tentaram responder algo, mas apenas gaguejaram alguma coisa incompreensível. Se Roberto Carlos já não estivesse meio baleado pelo álcool, não teria confundido uma convidada com uma penetra ou, pelo menos, teria notado a gafe com a reação nervosa de Carol.

Antes de digerirem a situação, as amigas já não tinham mais saída; estavam subindo de elevador, de volta à recepção. Cada segundo que passava aumentava a gafe do noivo e a vergonha de Carol, caso decidisse dizer que tudo se tratava de um engano. Ambas não conseguiam prestar atenção nas soluções sugeridas - a custo de muito torpor - por Roberto Carlos para a atual crise mundial. Quando chegaram ao andar, resolveram encarnar as personagens e tentaram agir com naturalidade.

Foi melhor do que elas esperavam. Por sorte, a tal de "Márcia" não é conhecida de ninguém; apenas dos noivos. A mulher de Roberto Carlos, Mariana Luccon, tão porre quanto ele, achava que Márcia estava um pouco mudada demais, mas pensou que fosse culpa da bebida. Depois de conhecer a metade de toda a família dos noivos, Carol teve que virar atriz quando o noivo começava a contar histórias da visita dela à Turquia, onde ele jogou nas últimas temporadas.

- Lembra aquela vez que você caiu da escada e o vestido subiu? Todo mundo viu que sua calcinha era vermelha! - conta Roberto Carlos, gargalhando sozinho. Os ouvintes riam mais discretamente, enquanto a noiva dava sinais de desconforto com aquele papo.
- Ah, então ela é a Márcia de quem tu tanto falavas? Ela não era morena? Achei que fosse mais baixa e não assim, tão bonita - pergunta a mãe do noivo, antes que Carol conseguisse interromper para dar sua versão sobre o fato. Neste momento, a noiva de Roberto Carlos pede licença e se retira de forma brusca.
- É ela mesma, mamãe. Ela está um pouco diferente, mesmo. Marcia, você pintou o cabelo? - pergunta, apalpando a coxa esquerda de Kathy, entre um gole e outro de vodca.

Neste momento, o radar de Carol capta o perigo iminente. Enquanto Roberto Carlos contava alguma outra história maluca, as duas moças da frente começaram a cochichar de forma estranha, se entreolham, olham para ela, sorriem. De repente apontam um pouco mais para longe e a conversa fica mais excitada. O rapaz do lado também entra na empolgação. Em poucos segundos, pelo menos umas dez pessoas tentavam segurar o riso preocupado, olhando para a direção do banheiro. Quando Carol resolve esticar os olhos para lá, entendeu por que toda aquela agitação dos convidados com quem dividia a mesa. Uma mulher negra, feinha, um pouco baixa e que chamava pouca atenção vinha em direção à mesa em que estava Roberto Carlos, Kathy e Carol, fazendo as vezes de... Uma morena, baixa e não lá muito bonita. Só podia ser a tal de Márcia!.

A reação foi rápida e segura, como Carol nunca imaginou ser capaz de fazer. Pediu licença, se despediu de forma genérica, puxou Kathy para a direção do elevador. Mais uma vez Roberto Carlos, ainda mais bêbado, pedia para elas ficarem, dessa vez com um olhar ainda mais faminto por Kathy. Carol se desculpou e deu mais um puxão na amiga, fazendo-a escapar de um beijo do noivo porre. As duas entraram abruptamente no elevador com a tensão nas alturas. Na saída do saguão, nem olharam para trás, para não correr o risco de serem abordadas por mais algum alcoolizado, mesmo que fosse mais rico e famoso que o noivo. Só no carro puderam relaxar e rirem até não aguentarem mais ao imaginar como deve ter sido a situação de a verdadeira Márcia voltar do banheiro e descobrir que uma falsária se passou por ela.


OBS: Desde os últimos "***" é tudo mentira. Trata-se de uma versão fantasiosa da história, inventada por alguma mente ociosa. O que se sucedeu em seguida, na verdade, é bem menos emocionante. É mais ou menos assim:

***

[Depois de serem expulsas do salão com acompanhamento dos seguranças]. Já no hall térreo, com vontade de sumir o mais rápido possível, relaxar, tomar um café e esquecer que um dia o Roberto Carlos casou, abrem-se as portas do elevador com uma mulher chamando.

- Venham, não tem problema! - diz Raquel.
- Mãe, a gente passou uma humilhação, não acredito que tu deixou isso acontecer... - disse Kathy, entre muitos outros termos impublicáveis.
- Eu não quero voltar, não vou voltar... - interrompe Carol.
- Agora que estamos aqui vamos ficar sim - decreta Kathy.

Sem escolha, por estar de carona com Kathy, Carol cedeu. O fato de agora serem oficialmente convidadas não foi o suficiente para voltarem de cabeça erguida ao salão. A vontade de sair permaneceu até... A hora de ir embora.

2 comentários:

ana carol disse...

gente q meninas loucas!

pobre carol

Cristina disse...

Muito bem escrito este texto. Aliás o seu blog está excelente!!!!!!!!