quarta-feira, 29 de outubro de 2008
domingo, 26 de outubro de 2008
Precisa-se de um herói
Tatuagem num braço, cicatriz noutro, ambos gesticulando muito e uma voz grave, anasalada e cheia de sotaque, contando estripulias que pareciam ter sido feitas no Afeganistão, durante a invasão dos Estados Unidos, há uns seis anos.
- Oh, man, teve uma hora que eu fiquei sozinho, cercado de enemies, com tiros de todos os lados.
- Sério?
- Sério. Pior que só estava com uma pistola, enquanto que os caras andavam para cima e para baixo com metralhadoras.
- Não brinca!
- Yeah, its true...
E assim, o americano Steve continuava falando de suas aventuras, enquanto que a platéia na parada de ônibus começava a ficar atenta ao papo. A velinha, apoiada na sombrinha como se fosse uma bengala, esticou o ouvido para não perder nada. O estudante de baixa estatura, que carregava seus livros e caderno alternando entre o braço direito e o esquerdo quando um deles cansava, ficava impressionado à medida com que o grandão falava de sua coragem.
Quando o papo começou a ficar sangrento, quase todos os donos dos 45 ouvidos que escutavam a conversa (uma das pessoas tinha a orelha amputada) fizeram cara de nojo.
- Eu vi um dos nossos caras ser espancado com punches n kicks e uma barra de ferro quente no...ear...
- Orelha
- Yeah, orelha
- Ughnrr!! - exclamou o desorelhado - eu sei como é isso!
Neste momento, uma dona-de-casa tapou com as mãos os ouvidos de sua filha e saiu de lá reclamando.
Indiferente ao grunhido e à reprovação da senhora, o gringo continuou falando de sua aventura. Dessa vez, com a voz ainda mais grossa e em tom de suspense, disse quando foi notado, escondido atrás de uma mureta, pelos torturadores.
O coração da platéia começou a bater forte. Uma freira até fez o sinal da cruz, com medo do que iria acontecer com o contador da história, ignorando que o cara estava ali, vivinho da silva. Já haviam passado três de seus ônibus, mas ela preferiu ficar ali para saber o desfecho.
Avesso àquela bagunça que se formava, Steve cortou bruscamente a história, dizendo ao seu amigo que seu ônibus já vinha passando. O amigo concordou, mas, antes que conseguisse se despedir, foi interrompido pelos protestos dos 62 ouvidos que escutavam atentamente a história (a essa altura o desorelhado já tinha pego seu ônibus).
Puxando a manga de sua camisa, dezenas insistiam que ele continuasse falando. Mas o cara só cedeu mesmo porque a galera fez uma barreira humana de forma que o motorista do ônibus nem conseguiu ver seu sinal.
"Como você conseguiu escapar?" e "você tem alguma seqüela da guerra?" eram as perguntas mais frequentes. Ao ver que outro ônibus vinha passando, já meio sem paciência, porque estava atrasado para o trabalho, Steve resolveu desfazer o mal entendido e foi direto ao assunto:
- Nessa altura, o diretor gritou "corta! corta!" e me dispensou, porque achou que eu não servia para o papel.
- Aaaaaaaah! Fala sério, não desconverse! A gente quer saber o que aconteceu lá quando você estava lá! - Gritou um baixinho lá do fundo, endossado pela galera da frente. Ninguém queria acreditar que tudo aquilo fora mero enredo de filme.
- Foi mal, people, i gotta go - disse, enquanto subia os degraus do ônibus, já impaciente com aquela aglomeração.
O mesmo baixinho foi se enfiltrando pelo meio do pessoal até conseguir subir no mesmo ônibus, já em movimento. Todo mundo estranhou, mas ele justificou:
- Eu já perdi minha aula, mesmo...
Assim, sem querer, o baixinho acabou estimulando muita gente a mudar de rota e entrar no mesmo coletivo, só para continuar ouvindo a história. Ao ver que não conseguiria se livrar daqueles carrapatos, Steve resolveu radicalizar. Já que ninguém queria acreditar que a história era apenas o teste de ator para um filme, o que era a mais pura verdade, ele passou a inventar mil aloprações. Mas, em vez de as pessoas desistirem de perturbar, só ficavam ainda mais hipnotizadas.
- Aí uns dez afegãos me agarraram, mas eu consegui me livrar de todos. Eu só tinha cinco munições, mas foi o suficiente, porque cada um dos tiros atravessou um dos soltados e parou no outro - inventava.
- Nossa, ele é bom mesmo! - exclamou o baixinho, mais uma vez reforçado pelos demais passageiros.
A perseguição continuou durante toda a viagem e, o que eram 62 orelhas escutando, ao descer do ônibus passou a ser 87 (o desorelhado, que andava por acaso próximo à parada do trabalho de Steve, resolveu se juntar novamente). Da parada até a fachada do órgão público onde Steve trabalha, formou-se praticamente uma procissão. E ninguém se desestimulava pelo fato de as histórias ficarem cada vez mais mirabolantes.
- Daí eu abati um helicópter com um estilingue - disse o aspirante a Chuck Norris.
- Meu herói! - fala uma mocinha de uns 15 anos, já até pedindo autógrafo.
Entrar no trabalho sem aquela turba descontrolada, para Steve, foi como tirar 200 quilos das costas. Durante a manhã toda, ele pôde se concentrar no trabalho e esquecer o que acontecera mais cedo. Só que, por acaso, enquanto estava almoçando, olhou pela janela e notou que os tresloucados ainda estavam lá, em frente ao seu trabalho. Pior, em número muito maior.
Por alguns minutos, Steve se sentou atônito, desejando ter um helicóptero para voltar para casa sem contato com aquele bando de loucos. Mas, de repente, ele refletiu um pouco e decidiu parar de remar contra a maré. Ao sair do trabalho, fez umpronunciamento quase solene à multidão que lhe esperava.
- Gente, vocês sabem que eu estou cansado e preciso ir para casa...
- Aaaaaaaaaahhhh!!! - exclamou a multidão, antes que ele pudesse completar a frase.
- Mas, calma. No próximo sábado eu vou continuar contando sobre quando eu acertei com minha pistola um afegão a um quilômetro de distância - disse, já se acostumando com o cinismo, já que sua pistola não tem alcance nem de 400 metros. - A entrada vai custar só cinco reais. Levem seus amigos.
Ao dizer isso, o americano entrou com uma certa dificuldade em um táxi e voltou para casa.
No dia marcado, o número de pessoas que foi assisti-lo contando sua fictícia história no Afeganistão era tão grande que ele teve que, em cima da hora, negociar um outro salão maior, para que todo mundo pudesse entrar. Ainda teve quem ficasse em pé, mas não quem saísse insatisfeito.
Semana após semana o número de pessoas aumentou tanto que o preço do ingresso aumentou para R$ 10 e depois para R$ 15. Steve chegou a fazer duas sessões, antes de alugar um espaço para 4 mil pessoas sentadas. Em pouco tempo, já estava dando entrevista na TV e até recebendo medalha de honra na Assembléia Legislativa.
Também não demorou para que ele tivesse a idéia de se candidatar como vereador da cidade, tal o sucesso. Ao final dos quatro anos de mandato, resolveu concorrer à prefeitura. O vice de sua chapa era o mesmo desorelhado, que agora fazia parte da história - passou a ser ele o suposto soldado torturado pelos afegãos.
A ascensão de Steve não ocorreu sem dificuldades. Surgiram rumores - vindos da oposição, claro - de que tudo não passava de uma farsa e ele nunca tivesse participado da guerra no Afeganistão. Nada que abalasse sua meteórica carreira. Para a maluquice do povo, só um herói retardado.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
A glória do peido
Em que momento podemos dizer que duas pessoas se tornaram íntimas? A verdade é que há apenas um marco para o início da intimidade: o peido. Após a primeira flatulência, devidamente cheirada por ambas as partes, as almas se ligam de uma forma como nunca dantes. Nem o arroto, por mais barulhento que seja, tem esse poder. Até porque ele normalmente é dado após perdida a virgindade do pum.
Contudo, é necessário cuidado. Um peido dado antes da hora pode afastar duas pessoas de maneira quase irreparável. No primeiro encontro, nem pensar! O gás intestinal deve ser lançado ao meio ambiente quando o relacionamento entra em monotonia e começa a faltar assunto.
A estréia costuma ser involuntária, claro. Já o segundo, sem querer querendo. Do terceiro em diante, o cara já faz força para sair com barulho. Há quem se aprofunde no assunto e participe de torneios de intensidade de pum e até corais de flatulência. Mas vá com calma, que isso não é para amadores.
A cerimônia para o primeiro pum só é necessária para de mulheres. Entre amigos homens, a coisa é diferente. Se os caras não soltam um peido decente depois de um mês, são todos boiolas. O pum está na essência da virilidade da alma masculina.
Em grupo de amigas, também é importante compartilhar o cheiro que vem de baixo. O processo é mais delicado. Muitas vezes, é necessário algumas doses de álcool para soltar a mulherada. Mas quem já viveu o momento de um pum debaixo do lençol testemunha que sua vida nunca mais foi a mesma.
Enfim, podemos resumir que:
"A intimidade é uma merda. O peido nos diz que estamos chegando lá".
domingo, 19 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Nós, os Robin Hoodis!
Mas nem é necessário tanto trabalho. Algumas pessoas se sentem bem depois de ficar com pena de um miserável na rua, ao mesmo tempo em que são incapazes de deixar de assistir uma novela para fazer um mero trabalho voluntário.
Ah, se não fossem os pobres! Nossas vidas nem mudariam tanto assim...
Bem, já falei demais
Fiz minha parte na campanha
Já posso dormir tranquilo, sabendo que, por isso, os miseráveis terão um futuro melhor
e com licença, que eu não posso perder o próximo capítulo da novela...
domingo, 12 de outubro de 2008
Feedback das celebridades
Confiram os comentários:
"O melhor blog do mundo", não diz Barak Obama
"Ah, Legal...", diz Willian Bonner, querendo dizer "tu é fresco?"
"É muito bacana!", diz Bill Gates, achando se tratar do blog do Philip Yancey
"Maravilhoso, explêndido!", exclama o lavador de carro Pedrinho da Esquina, depois de receber uma gorjeta decente e de aprender a falar essas palavras
"Tu é fresco?", pergunta João Gordo, querendo dizer "Ah, Legal..."
"Nunca na história do país houve um blog como esse", deveria dizer Lula
"Tá uma merda!", diria meu professor de jornalismo impresso
"Adoreeeeeeeeeei, ebinho!", diz mamãe
"Pra que um blog?", questiona meu irmão
"Quero te ver é estudando", sugere meu pai
sábado, 11 de outubro de 2008
O fundo e o raso
Pronto. Sou um cara politicamente correto. Participo de uma campanha mundial de blogs para a discussão contra a pobreza (www.blogactionday.org) . Eu vou ter que pensar em algo bem emocionante para publicar no dia 15, para eu fazer minha parte no mundo e tocar o coração dos meus leitores - diga-se, minha mãe e um amigo do Timor Leste, que entra na internet em tempos de calmaria.
É verdade que não conseguimos deixar de mascar um chiclete para ajudar um faminto. No fundo, temos pena deles; no raso, não é da nossa conta. Afinal, há miseráveis demais no mundo para conseguirmos alimentar todos.
Então chega a campanha, para, ao mesmo tempo movimentar blogs entregues às moscas e dar-lhes um ar de maturidade. "Já viu fulano? Ele tá preocupado com o futuro da humanindade! Desse jeito vai acabar participando do Fórum Social Mundial...", comentam leitores de um blog politizado. "Ufa! Adorei essa campanha! Se não fosse ela, meu blog ficaria duas semanas sem postagens!", confidencia um blogueiro para seu amigo.
Temos que admitir: a idéia é genial.
Só que, no fundo, achamos que a campanha não vai ajudar muita coisa; no raso, temos certeza.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
"Eu já sabia!"
(Folhapress) - Um grupo de pesquisadores da Univesidade de Harvard, nos Estados Unidos, publicou nesta quinta-feira, 9, um estudo que comprova a relação direta entre o uso do Allstar e o consumo da maconha. De acordo com a publicação, cerca de 86,3% das pessoas que usam a referida marca de tênis admitem puxar um baseado pelo menos uma vez por mês. Os demais 16,7% fumam todo dia.
Os pesquisadores aplicaram, para 200 músicos, jornalistas, publicitários e produtores culturais que usam Allstar, um questionário com 50 questões do dia-a-dia. Cerca de 30% não souberam dizer o próprio nome; 73% não chegaram à última questão e 13% engoliram a caneta antes de começar a responder o questionário.
No mesmo estudo, os pesquisadores da universidade, orientados pelo professor de moda bioquímica Bobby Marlicley, extraíram amostras do fluido pulmonar de todos os 200 voluntários, para análise em microscópios. Nenhum dos estudiosos soube dizer o que viu, pois era sexta-feira, todos os pesquisadores usam Allstar e eles estavam muito chapados para conseguir chegar a qualquer conclusão.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Nem te conto (2)
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Foto e fato
Poisé. Sacanagem até no mundo animal. Em pleno bosque.
Nem te Conto...(1)
- Por que tu invadiu a calçada?
- Perdi o controle do carro. Só isso.
- Mas por quê?
- Irmão, sou evangélico, nenhuma folha de árvore cai sem a permissão de Deus, amém?
Quase que eu respondo "Amém, irmão!", mas ele perceberia o deboche.
Fiquei com vontade de perguntar: "mas nesse caso, num foi tu que arrancou a folha da árvore?". Mas me calei. Tudo bem. A culpa é de Deus.
Num tem uma coisa estanha nessa foto?
Por que um blog?
Eu me fiz essa pergunta várias vezes antes que estrear meu blog.
Sei que o mundo quer apenas sexo, dinheiro, poder e humor. Como não posso oferecer os três primeiros...e nem o quarto...então realmente não sei pra que serve esse blog.
O mundo tá chato; coisas sem sentido o deixam mais redondinho.
Isso aqui não passa de uma uma maneira despretenciosa e narcisista de eu conversar comigo mesmo. Então, sinta-se um entruso.
Até agora, minha idéia aqui é fazer a algumas seções como:
1) Entrevista da Semana: a voz das personalidades desconhecidas
2) Foto da semana: inutilidades registradas em pixels
3) Cálculo da semana: o ápice da falta de nexo
4) Minuto de seriedade: um texto com pretensões pseudo-filosóficas
5) Nem te Conto: histórias verídicas de fatos reais que ocorreram comigo
6) Deu na Teia: inutilidades que rolam na web
Enfim, sigam bons conselhos: plantem uma árvore, leiam um livro e esqueçam esse blog!
Beijundas