Temperatura: quentinho agradávelDatas: 25 a 28 de outubro
Hospedagem: hostel
Nota: 8
Fase: 1\8
Olá,
Tudo inicia na verdade, em Belém.
Mal entrei no avião e já vi que vou ter alguma dificuldade com a comunicação. Talvez eu devesse ter feito um curso intensivo de português, porque às vezes o comissário parecia falar aramaico. Quase peço pro portuga falar em inglês.
Aproveitei a telinha individual pra curtir uma comédia. O mais engraçado, sem dúvida, nem era o roteiro, e sim a legenda com português de Portugal:
"the sex was great"
"A queca foi boa"
Durante o voo, tive que por em prática meu coaching de atuação pra ser convincente na hora de fingir que entendia tudo o que o padeiro do meu lado falava (tudo bem, ele não é padeiro, mas leva todo o jeitão).
Enfim, essa língua dos caras vai me dar trabalho.
Gente não é só em Belém que orla chama maconheiro. Quase que eu digo que sou policial federal pra fazer o coleguinha parar de insistir em me vender haxixe e derivados, à beira do rio Tejo.
O Bairro Alto é uma espécie de Olinda, tirando o fato de que pensando bem não tem nada a ver com Olinda.
Já o centro histórico é uma mistura pobre do charme de Paris com antiguidades de Roma. Claro que não chega aos pés dos dois. Mas mesmo estando meio acabadinho, é uma área gostosa e muito bonita. Para brasileiros. Nem tanto pra romanos e parisienses.
Aliás Lisboa poderia ter um quê do charme da antiguidade de Roma, se o terremoto de 1755 num tivesse sacaneado tudo. Restou à cidade se contentar em ser o segundo escalão europeu, cujo maior atrativo é ser uma porta de entrada fácil e rápida pros brasileiros.
Ano passado vim pra Europa com quase 25kg, pra pegar friozinho. Dessa vez são 17kg (uns 3kg só de presentes) pra talvez ver neve.
Ano passado vim pra Europa com quase 25kg, pra pegar friozinho. Dessa vez são 17kg (uns 3kg só de presentes) pra talvez ver neve.
Palmas.
Obrigado, obrigado.
Arrumar a mala dá um medão de se esquecer de alguma coisa. Até agora acho que tenho tudo que eu precisava. Demorei a notar que não trouxe o bom senso, mas também, eu quase não uso. O problema de não estar com ele é ter mais peso na volta. Não na mala; na consciência.
Eu já esperava ser invisível pros garçons mas me surpreendi com um diálogo super cabeça que tivemos. Como ele não entendia o que eu queria dizer, tive que ser mais direto:
- Um prato desses mata minha fome? - Ora, se comer bastante mata a fome se comer pouco não mata...
O cara é burro mas talvez tenha coração: viu que sou um viajante pobre e encheu uma cesta com pães como entrada e fiquei tranquilo. Mesmo se o prato for pequeno, com fome eu não saio.
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Além da cachaça os portugueses parecem já ter integrado ao estilo de vida outro elemento brasileiro: o jeitinho.
Fui comprar um vinho do Porto no supermercado e na hora o preço sai o dobro. Na hora imaginei que eu era o sonolento idiota desatento. Tá, eu sou. Mas quem errou no preço foi ela, que admitiu e pediu desculpa.
Arrumar a mala dá um medão de se esquecer de alguma coisa. Até agora acho que tenho tudo que eu precisava. Demorei a notar que não trouxe o bom senso, mas também, eu quase não uso. O problema de não estar com ele é ter mais peso na volta. Não na mala; na consciência.
Eu já esperava ser invisível pros garçons mas me surpreendi com um diálogo super cabeça que tivemos. Como ele não entendia o que eu queria dizer, tive que ser mais direto:
- Um prato desses mata minha fome? - Ora, se comer bastante mata a fome se comer pouco não mata...
O cara é burro mas talvez tenha coração: viu que sou um viajante pobre e encheu uma cesta com pães como entrada e fiquei tranquilo. Mesmo se o prato for pequeno, com fome eu não saio.
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Além da cachaça os portugueses parecem já ter integrado ao estilo de vida outro elemento brasileiro: o jeitinho.
Fui comprar um vinho do Porto no supermercado e na hora o preço sai o dobro. Na hora imaginei que eu era o sonolento idiota desatento. Tá, eu sou. Mas quem errou no preço foi ela, que admitiu e pediu desculpa.
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Esses dois últimos fatos pareciam completamente aleatórios até uma paranaense que mora em Coimbra me garantir que brasileiro sempre é tratado pior.
Achei que os caras alternavam coices e
ignoradas pra todos. Aí tudo faz mais sentido quando lembro que só faltei ficar pelado de quatro no
aeroporto pra verem se havia uma bomba atômica anal ou sei lá um par de
vírus ebola perdido nos meus recônditos corporais.
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Castelo dos Mouros, Sintra. É tipo Machu Picchu exceto pelo fato de que se olhar bem num tem nada a ver com Machu Picchu.
Perto tem um palácio dos últimos reis de Portugal, inclusive do broder do Pedro II. Nessa época, Napoleao III vivia tao melhor que, se a realeza portuguesa descobrisse, ficaria mufina de se chamar monarquia e entregaria de boa o trono pros republicanos.
Nem sei se é desleixo, simplicidade ou falta de grana. Provavelmente os 3. E isso acomete Lisboa inteira, porque é bonita mas meio acabadinha
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Parece ser legal ser de um país de língua inglesa, já que quase todo mundo te entende.
Ou nao.
A canadense do Hostel num tinha paciência de falar sem ser em forma de rajada de HK 47 com silenciador. Ninguém digeria uma frase completa dela. E a doida também num parecia se empolgar com o ritmo cata milho de nós meros aprendizes.
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Fado lembra muito tango. Exceto pelo fato de num ter nada a ver com pensando bem parece sim, cara. É bacana:
"Pedi a Deus um pedacinho do céu
E Ele me deu o brilho dos olhos teus"
Esse foi o único fado nao suicídico que escutei. O resto parecia o canto de lamento de cordeiros líbios na fila do abate.
Ou o fundo musical mental de mesários conferindo votos no Levi Fidélix, sei lá.
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Em breve, próximo capítulo:
AMSTERDAM