segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um sofá para surfar



Quem é louco de abrigar um desconhecido em casa? Eu.

Não só eu. Sou apenas em milhares do site couchsurfing.org. Embalado pela filosofia fraterna, acabei de abrigar por cinco dias um canadense que eu nunca tinha visto na vida.

O começo foi estranhão, claro. Mas logo a presença do Hurly se tornou natural, como seria a de qualquer outro conhecido. No segundo dia quase falo "quem é esse canadense que eu mal conheço e já considero pakas?", só que ele não entenderia o contexto e daria muito trabalho de explicar em inglês.

Me senti com sorte por ter recebido o Hurly. Ele já foi hóspede ou hospedou desconhecidos por pelo menos 150 vezes, sem uma única experiência negativa. É quase um professor no assunto. Sempre diz que couchsurfing é muito mais do que só ter um lugar pra dormir; é uma troca de experiências culturais.

Tudo que ele não queria era dar trabalho e de vez em quando ainda lavava a louça. Seria injusto eu proibir, né não? E o objetivo dele não era sair tresloucadamente visitando a maior quantidade de pontos turísticos por dia. Ele queria conhecer o ritmo da cidade, entender como funciona o dia a dia e conquistar mais um continente à sua escolha daí, tirar conclusões comparativas.

Por exemplo, se um canadense tem um objeto esbandalhado, em vez de consertar, logo compra outro. Se o cara é assaltado, não faz a menor ideia de como se portar. Por lá a preocupação com um corpo sarado parece ser menor. E por aí vai.
Hurly na verdade é um canadense meio paraguaio. Não só por ter nascido nas Filipinas, mas também porque sente frio num ar condicionado a 17 graus. Poxa, o cara é cidadão canadense, acostumado a rolar de sunga no gelo, abraçar pinguim a 30 graus negativos. Vou reclamar no call center.

Outro problema ~gravíssimo~ é que ninguém acertava a pronúncia do pobrezinho. Hurly. É tipo rãrlhi. Um nome filipino talvez fosse mais fácil para não falantes de inglês. Whatever.

Só sei que foi firme. Tô até pensando no próximo azarado a aterrissar por aqui. Além de lavar a louça, acho que vai limpar o banheiro, varrer o teto, comprar pão e levar o cachorro pra cagar. Façam fila. Hóspedes com habilidades de cozinheiro têm mais chance.